Origens
Nascida na Carolina do Norte (um estado carregado de tradição sulista, onde racismo, escravidão, famílias e música fazem parte do legado cultural), Rhiannon Giddens é filha de um casal de opostos, seu pai era um descendente de irlandeses, sua mãe afro-americana com raízes nativo-americanas. Ainda criança viu seus pais se separarem, mas isso não a impediu de aprender música, especialmente com o pai. Quando ela tinha três ou quatro anos de idade, ela e seu pai começaram a inventar “pequenas fugas, cadências - antes que eu soubesse o que era uma fuga ou uma cadência”, disse Giddens. No carro, eles ouviam Peter, Paul e Mary. Ela e a irmã cantavam juntas, mas seus pais não deixaram que elas tivessem lições de canto até os dezesseis anos. A ideia – acertada – era proteger a voz ainda em desenvolvimento.
A voz de Giddens é ágil e, tendo estudado ópera na Oberlin College, desenvolveu características de uma soprano de imenso talento. Mas a paixão pela música tradicional e suas origens, levou a cantora a estudar banjo e violino, ela também estudou gaélico, música escocesa e irlandesa.
Após viver alguns anos a cantar árias em restaurantes para se sustentar, Giddens montou a Carolina Chocolate Drops, e junto com Dom Flemons e Súle Greg Wilson, eles resgatavam antigas e esquecidas canções dos campos de algodão e dos escravos.
O trio gravou belos discos que expandiam nossa percepção da música e das suas origens – ‘Dona Got a Ramblin’ Mind’, ‘Heritage’, ‘Genuine Negro Jig’ e ‘Leaving Eden’- ao ouvirmos estes discos, redescobrimos raízes culturais ainda mais profundas daquilo que hoje consideramos ser aquela ‘estranha e esquisita América’, aquela América que nutre e alimenta nomes como Bob Dylan, The Band, Led Zeppelin, Neil Young, Bruce Springsteen, Jack White, e toda uma turma de gênios musicais a preencher nossas vidas musicais. A Carolina Chocolate Drops vem nos lembrar onde tudo começou.
A verdade é de que os negros estavam presentes no nascimento da música folclórica americana, assim como estavam no começo do jazz, blues, rock e praticamente todos os outros grandes gêneros na história musical do país. Essa realidade, entretanto, tem sido obscurecida pelo hábito e preconceito. “Havia tanta hostilidade à ideia de um banjo ser um instrumento negro”, lembra Giddens. "Foi cooptado por essa noção de supremacia branca de que a música dos velhos tempos era a herança da américa branca", diz ela para o site da Smithsonian Magazine.