#Abstenha-se
Em 2004, nosso doge de Veneza descrevia o vício degenerado da nossa política
“(…) Vi muita gente comemorar a derrota eleitoral de caciques da política como Maluf, Quércia, Collor, Brizola. Na imprensa, os editorialistas mais comedidos celebraram o “amadurecimento do eleitorado”, enquanto os mais hiperbólicos afirmaram que o “eleitor era sábio” e que o “Brasil deu motivos para entusiasmo”. O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso atribui-se os méritos pela mudança: “Graças ao meu estilo de governar, as oligarquias foram perdendo a centralidade na política”. Ou seja, todo mundo está muito feliz, muito otimista. Como eu desconfio de gente muito feliz e muito otimista, sobretudo ao que se refere a políticos e editorialistas, recordo que deputados, senadores, governadores e presidentes sempre conseguem ser mais desastrosos do que as expectativas. E que sempre aparece um filho, um neto ou um sobrinho para perpetuar os enganos dos seus antepassados. Se o voto do último domingo renovou a sua fé no futuro, e você saiu buzinando estupidamente pelas ruas para festejar a vitória esmagadora do seu candidato, saiba que irá quebrar a cara. Da próxima vez, abstenha-se”.
Diogo Mainardi, A tapas e pontapés, 4ª edição, Record, 2004, p. 93