A declaração a seguir é um exemplo da psicologia reversa:
Acho que o trabalho que Boulos tem que fazer é não dar importância para o cidadão daquele tipo, não tem nem que fazer pergunta para ele, nem responder pergunta. Deixa ele falar o que ele quiser", afirmou Lula, um dia após o seu aliado entrar em confronto com o influenciador num debate eleitoral na capital paulista.
Em tese, a declaração do presidente Lula capturada pela Folha mostra que o PT não está nem aí para o efeito Marçal – sua escalada irresistível nas redes, seu comportamento imprevisível nos debates e suas declarações ainda mais estapafúrdias em entrevistas. Marçal é uma espécie de vilão de almanaque, embora seu repertório do absurdo seja menos óbvio do que isso. O problema, no entanto, tem a ver com a reação dos candidatos da situação – sim, porque todos os postulantes ao cargo se parecem entre si.
Nos debates, Tabata Amaral não consegue conter seu ar professoral (ela é a Lisa Simpson dessa eleição, nas palavras certeiras de Leandro Sarubo), a certeza de quem tem a resposta certa para os problemas complexos, típico de quem despontou para a vida pública como uma voz que dialogou com Ciro Gomes, conquistou a atenção do bilionário Jorge Paulo Lemann, calou Ricardo Velez na comissão da câmara sobre educação e ainda fez cosplay de Hannah Arendt no infame episódio que marcou a domesticação do Flow Podcast – quando Monark (alguém se lembra dele?) foi proscrito.
Ricardo Nunes, por sua vez, age como se não fosse a disputa não fosse com ele, embora seja prefeito da maior cidade do país e seu grande feito, até aqui, é passar como ilustre desconhecido. Mas quando seu comportamento, seu discurso monocórdio, seu terno alinhado sem gravata e sua barba o tornam parecido com outros políticos e não o destacam. O político participa da corrida eleitoral torcendo para que todos briguem entre si e ninguém dê atenção aos seus feitos no comando da cidade – que, como ele, não tem qualquer destaque.
José Luiz Datena parece ter se encantado com a possibilidade de ser prefeito, mas, até o momento, só serviu de escada para jornalistas como Natuza Nery e Vera Magalhães, que ensinaram ao apresentador, na prática, o conceito de maninterrupting. Os vídeos são quase esquetes do finado “TV Pirata”.