O estagiário do NEIM abre o suplemento cultural da Folha e lá está, escancarado, o lobby cinematográfico do momento: a nova obra-prima do cinema nacional é a adaptação de Luiz Fernando Carvalho para A Paixão Segundo GH, de Clarice Lispector.
Walter Porto, o repórter de livros que só pensa em Black Lives Matter; um infeliz da Ilustrada que foi cobrir o filme, mas acabou só falando de baratas (com direito a descrições minuciosas sobre a gosma que sai delas, mas nenhuma linha sobre o que é o filme de fato); e Mario Sergio Conti (Drácula) - todos esses luminares teceram elogios à película.
O que significa que estamos de novo diante do famoso aforismo dito por um Superior Desconhecido que não está mais entre nós: filme brasileiro bom é filme brasileiro morto.
O problema é que, no caso de Luiz Fernando Carvalho, nem sempre foi assim. Considerado no passado como o Orson Welles da Rede Globo, com a direção inovadora em novelas como Renascer e O Rei do Gado, ele pouco a pouco começou a se perder no personagem - ao adaptar, por exemplo, Os Maias de Eça de Queiroz como se fosse um melodrama a lá Luchino Visconti (e não a sátira ácida lusitana que sempre foi).
Mas antes ele realizou o maior filme brasileiro de todos os tempos (desculpem-me Glauber e Mário Peixoto): Lavoura Arcaica, baseado no romance de Raduan Nassar. Quem ainda não viu não sabe o que está perdendo.
Entretanto, trinta anos depois, ele simplesmente se dissolveu no clichê identitário. E isso mostra como o Brasil também entrou na mesma arapuca.
Pois, só pela recepção crítica que A Paixão Segundo GH teve nos jornais, já dá para observar que: 1) Carvalho transformou o romance metafísico de Clarice em um manifesto woke; e 2) politizou a trama (algo que Clarice também abominava).
Além disso, Luiz Fernando resolveu se apoiar em uma das piores atrizes de todos os tempos, Maria Fernanda Cândido, que pode ter a beleza de alabastro invejada por todas as mulheres (e homens) deste Brasil, mas que é inexpressiva como um pedaço de madeira (perto dela, Schwarzenegger é Marlon Brando).
“Ô preguiça”, como diria Macunaíma. E se for para ir ao cinema, meu querido leitor, então nem se fala.
Obrigado por me informar um filme que nao devo ver e passar longe.
Clarice, que é Clarice, coitada, virou o recurso fácil de todo mundo que é "pseudo" no Brasil.
Qualquer "estagiária de calcanhar sujo", como dizia o outro, adora pespegar frases soltas de Clarice no "Facetruque" pra pagar de
inteligentinha tentando impressionar desavisados. Agora foi o outro "viajandão"
Parafraseando o outro em programa televisivo que implorava atenção para a "professorinha"
abandonada, "por favor, salvem Clarice"