[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
No livro A arte do romance, o escritor Milan Kundera propõe uma explicação de como funciona a ficção de Hermann Broch. Na opinião do autor de A insustentável leveza do ser, a Trilogia Sonâmbula merece destaque porque, diferentemente dos tomos de Marcel Proust ou de Thomas Mann, “não é a quantidade da ação ou da biografia que, em Broch, fundamenta a unidade do conjunto”. E prossegue Kundera: “é outra coisa, menos visível, menos tangível, secreta: a continuidade do mesmo tema (o homem confrontado com o processo de degradação dos valores)”.
Essa mudança de direção é aprofundada no romance Esch ou a anarquia. Com efeito, ainda que Bertrand, espécie de antagonista de Posenow no primeiro romance, desempenhe um papel relevante nesta sequência, a história se consolida graças à personalidade e ao caráter de Esch, sem a necessidade de retomada da trama anterior. A propósito, sempre de acordo com Kundera, a história de cada romance é tão independente que existe o lapso de quinze anos entre uma narrativa e outra.