Longlegs: Vínculo Mortal (Longlegs, 2024) é talvez um dos melhores filmes que vi este ano. Eu sinceramente não esperava por isso. É verdade que acompanho de perto o trabalho do diretor e roteirista Osgood Perkins. Sim, todos sabemos que ele é o filho de Anthony Perkins, o eterno Norman Bates de Psicose (Psycho, 1960, de Alfred Hitchcock), e apesar de ser artista que já possui uma obra, principalmente no campo do horror, seu trabalho tem existido numa zona cinzenta, discreta. A Enviada do Mal (The Blackcoat’s Daughter, 2015), seu primeiro longa, é uma atualização brilhante do gênero gótico no contexto norte-americano, mas é um filme lento, atmosférico e profundamente ambíguo. É uma estréia formidável, e uma que já mostra plena maturidade de seu realizador ao adotar com maestria o seu gênero de preferência, e um que ele continuaria com O Último Capítulo (I Am the Pretty Thing That Lives in the House, 2016), produção original da Netflix e um que Perkins usou para explorar a célebre ghost story.
Apesar de ambos filmes terem adquirido sua parcela de admiradores (eu incluso), o fato é que Perkins é uma figura discreta, que leva tempo com seus projetos e que passa ao largo das inovações do horror nas últimas décadas. Seus filmes são de baixo-orçamento ou, então, mid-budget, um tipo de filme que era comum em Hollywood antes da ascensão da Era das Franquias, mas hoje é uma avis rara. Seria fácil colocar Oz Perkins na mesma chave de diretores como Robert Eggers ou Ari Aster, que geralmente são classificados na alcunha de “elevated horror”, mas seus filmes passam longe destes. O filme que deveria ser seu primeiro grande sucesso, Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel, 2020) teve o azar de estrear nos cinemas pouco antes da pandemia da Covid19, o que afetou sua bilheteria. Mas é sem dúvidas um longa extraordinário, uma reinvenção do clássico conto de fadas dos Irmãos Grimm reimaginada como uma complexa dark fantasy. Apesar de seu grande orçamento, e uma paleta ampla para que Perkins desenvolvesse sua estética peculiar, se trata de um filme tão único e atípico que é extraordinário que o filme sequer tenha sido feito. Talvez seja por isso que Perkins tenha trabalhado nas margens dos grandes estúdios, desenvolvendo seu trabalho com selos como A24, Annapurna e, agora, a NEON, com Longlegs.