Por Amadeu Crisóstomo
O sistema de crenças da maioria dos animais é relativamente semelhante.
Por exemplo, um gato que encontra um musaranho pela primeira vez costuma tratá-lo como se fosse um rato. Contudo, o musaranho, além de exalar um odor que espanta predadores, pode eliminar substâncias tóxicas que fazem muito mal para o gato. Assim, num segundo encontro, o gato, que antes enxergava ratos e musaranhos como coisas iguais, passa a distinguir os dois animais e a evitar um deles.
Os gatos, até onde sabemos, não criam um sistema de crenças, não teorizam, não conceituam. Não temos notícias de que o musaranho tenha se tornado um demônio para os felinos. Nem de que haja um congresso anual dos gatos sobre etologia e anatomia do musaranho. Os gatos não se verão obrigados a educar seus filhotes sobre como fazer distinções e descrições dos animais da ordem Soricomorpha. O pequeno musaranho será somente uma caça a ser evitada.
Eis uma grande diferença: ao contrário dos humanos, gatos são capazes de alinhar rapidamente sua percepção e corrigir suas crenças para evitar o que pode lhes fazer muito mal.
No entanto, ainda que essa adaptação seja mais complexa e demorada para humanos, o processo de correção e realinhamento de crenças conforme as experiências é possível para todos os animais.
Assim pensávamos, até começarmos as nossas observações no reino de Lulil.
No primeiro relato sobre Lulil, procurei realçar esse caráter do comportamento animal em comparação com as peculiaridades dos animais lulileiros.
Em meio às pesquisas e à elaboração do primeiro volume do Tratado Teratológico de Lulil, diante de novas observações, realizei este breve desafio intelectual sobre uma espécie nunca antes documentada na história.