A vitória de Trump continua a gerar uma reverberação cósmica, como diria Gilberto Gil.
Todo mundo pretende explicar como um ex-presidente, defenestrado pela mídia e derrotado nas urnas em 2020, conseguiu retornar ao picadeiro político e impor uma derrota humilhante aos democratas.
Muitas teorias, muitos livros e muitos papers acadêmicos ainda vão surgir diagnosticando a vitória de Trump como uma ameaça à democracia. O problema é que todos analisam a política a partir da dinâmica do poder, ignorando a indignação constante da população, que não se vê representada e nem espera uma melhora na sua vida através da benevolência do Estado.
Não se trata apenas da incapacidade de entender o que o povo pensa, mas de uma idolatria da ciência política que, convenhamos, há muito tempo já não consegue explicar coisa alguma. Isso não quer dizer que ela seja irrelevante, só está sendo usada como pretexto para se impor preferências ideológicas ao invés de servir como um meio para explicar a realidade.
Costuma-se traduzir democracia como o poder que vem do povo. Mas os acadêmicos têm feito análises apenas das articulações dos candidatos e dos partidos. E a imprensa só publica os acordos e conchavos de bastidores. Estão tão alucinados com o poder que esquecem do povo.
Na verdade, o que esta em crise não é a democracia, mas a capacidade dos intelectuais admitirem que erraram ao substituírem a experiência imediata por uma abstração simbólica daquilo que se comprometeram a acreditar.
A política foi degenerada a ponto de se discutir apenas os métodos para se ganhar uma eleição, ao invés dos meios para se resolver os problemas sociais e econômicos que tornam a vida da população insuportável.
Excelente Diogo!
Os intelectuais querem provar que sua teoria está certa, a realidade é que está errada.
Parodiando ao avesso um ditado chinês: antes de se sentar em frente ao computador para escrever o porquê, o intectual deveria dar três voltas no mundo para conhece-lo melhor.
Incluo: jornallistas, analistas, formadores de opinião, escrevedores de narrativas,... descartem o teclado um pouco e prestem atenção no mundo.