Em 1914 estourou a Grande Guerra, renomeada Primeira Guerra Mundial somente quando o mundo percebeu que começava a Segunda. A novidade não era a guerra em si - não houve, até 1945, período em que não houvesse grandes guerras na Terra. A surpresa foi a velocidade com que o conflito se espalhou. Inicialmente, na Europa e Estados Unidos, havia muitos pacifistas, muita gente que acreditava que se não participasse, não haveria guerra. A Velha Direita, a Velha Esquerda, grandes capitalistas e grandes escritores declararam-se pacifistas. Joseph Roth era um deles. Naquele mesmo ano iniciou seus estudos de Filosofia e Literatura Alemã na Universidade de Viena. Mas em 1916 mudou de ideia e alistou-se no exército do Império Austro-Húngaro. Serviu até o fim da guerra, em 1918. Mas enquanto isto, tudo mudou.
O velho Kaiser Franz Joseph, que já estava doente, morreu durante a guerra que ele mesmo havia iniciado. Seu sucessor, Karl I, só conseguiu manter-se no poder por dois anos. A derrota, em 1918, foi o colapso do Império. Este mundo que Roth havia conhecido e amado desapareceu, ficou só em sua memória, e como veremos, na de muitos outros. Brody, sua cidade natal, voltou a pertencer à Polônia, e nos dois anos seguintes foi devastada pela Guerra Russo-Polonesa. Basta olhar a sequência de nomes da escola onde Roth estudou para saber onde estavam as fronteiras a cada ano. Em busca de uma vida melhor, Roth voltou à vida civil em Viena, que também estava empobrecida e decadente. Enquanto isto, os vitoriosos Aliados reuniam-se na Sala dos Espelhos em Versailles para redesenhar o mapa da Europa. O excesso de brilho deve ter ofuscado esses homens, levando-os a assinar um tratado impraticável, com consequências fatais.
Em 1919, Joseph Roth começava sua carreira jornalística escrevendo para importantes jornais liberais. Conheceu a jovem e linda Friedl Reichler, e em 1922 casaram-se na sinagoga Leopoldstadt, em Viena. Nos Estados Unidos os 'roaring twenties' começavam a rugir ao som do jazz. Dançava-se muito, uma explosão de energia cinética. A Europa, ainda muito depauperada, lutava para se reerguer, mas a vida noturna em Viena ou Berlim era agitadíssima. Uma nova liberdade festiva encobria a realidade do desaparecimento do mundo antigo sem a preocupação de criar uma nova ordem para substituí-lo, mas a natureza abomina o vácuo: essa ordem viria do nono círculo do inferno.