“Quando escrevo, escrevo sobre o outro. O outro é o meu elemento de interesse, de aprofundamento.”
Ana Paula Maia
Em um texto anterior comentei que atualmente a literatura brasileira está impregnada de ideologismos que penetram tão profundamente a escrita dos literatos que pouco ou nada se salva nas obras contemporâneas que não seja mero discurso pré-programado ou defesa de pontos de vista limitados e que mais falam de um mundo próprio e fechado em si mesmo. Não é à toa que vemos o sucesso e a celebração de livros de “autoficção” - um gênero que a crítica tenta vender como novidade, mas que está entre nós desde pelo menos a publicação das Confissões de Santo Agostinho ou, para sermos mais modernos, na escrita de Henry Miller, que ficcionalizou sua vida de tal maneira que mesmo os melhores biógrafos tiveram dificuldades de separar o que era ficção em meio suas memórias confessas.
O sucesso e predominância dos autores de “auto ficção” nas prateleiras das livrarias e nas páginas dos jornais (Annie Ernaux, José Bortolucci) é um indício importante de como a literatura hoje é validada – e limitada – pelas origens sociais, culturais, pelo gênero e até mesmo, pasmem, genética – de seus autores. Não é difícil encontrar críticos, autores e resenhistas que defendem abertamente e com ares puritanos um “lugar de fala” na literatura. Isto é, um autor só pode escrever sobre aquilo que “viveu na pele”.
Neste cenário a obra de Ana Paula Maia é uma anomalia.