Ele foi um dos escritores mais proeminentes da literatura mundial. A prova disso é que, dias antes da entrega do Prêmio Nobel em 2005 (vencido pelo dramaturgo inglês Harold Pinter), a imprensa cultural europeia cogitava seu nome como um dos favoritos. Isso para não mencionar o fato de ter sua obra publicada em edição definitiva pela Library of America no total de oito volumes – e ser então o terceiro autor americano vivo a receber tal distinção. E a lista de títulos e honras poderia seguir ao longo de todo o texto, como se fosse uma efeméride, mas O Complô contra a América, um dos últimos romances do escritor norte-americano Philip Roth, merece mais espaço, até porque diz mais a respeito de sua obra do que qualquer outro comentário laudatório, bem como traz à tona uma história por demais trágica para ser verdade, mas que em muitos detalhes se equipara a uma realidade mais absurda que a ficção.
A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Para ser mais exato, Roth inicia sua narrativa no momento em que o conflito ainda estava circunscrito à esfera europeia; pelo menos era assim que grande parte dos americanos, conforme o autor relata, pensava em 1940, época da sucessão presidencial. A família Roth, judia e moradora da pacata região de Newark, levava sua existência até então na perpétua tranquilidade. Pois, se havia problemas, decerto eles não eram insolúveis. Assim, os cinco membros – Herman (o pai), Bess (a mãe), Sandy (o irmão mais velho), Philip (o caçula) e mais o primo Alvin – dividiam ali suas alegrias e eventuais agruras em família. Essa condição de paz perpétua, no entanto, não dura muito. De fato, nem é com ela que o autor inicia o livro. “O medo domina estas lembranças, um medo perpétuo”, ele escreve na primeira linha. Motivo? Tudo porque, ao contrário do que se imaginava, o republicano Charles A. Lindberg derrotou com ampla maioria de vantagem o candidato preferido, e teoricamente favorito, de boa parte dos americanos. Para tanto, sua principal bandeira, para alegria de alguns e desespero de tantos outros, era o não envolvimento com a Guerra que acontecia lá na Europa. Roth até relembra um dos motes da campanha: “Vote em Lindberg ou vote a favor da Guerra”. Ora, não precisou de tanto convencimento e todos foram enredados num governo que acarretaria mudanças indeléveis para os Estados Unidos e para os americanos.