#APermanênciaDeNathanielHawthorne (2)
Querem entender os Estados Unidos? Então leiam "A Letra Escarlate".
[Leia a primeira parte do ensaio]
Com efeito, sobre os Estados Unidos, já faz tempo que muitos têm se lançado na sedutora tarefa de tentar interpretar de modo definitivo os eventos que acontecem na maior democracia do planeta. Dos eventos subsequentes aos atentados terroristas de setembro de 2001 às eleições norte-americanas em 2016 e em 2020, não foram poucos aqueles que nos últimos 20 anos escreveram, criticaram, manifestaram suas pensatas, opinando, enfim, a propósito do comportamento dos norte-americanos. Sobretudo ao longo dos últimos 5 anos, logo depois de que Donald Trump foi alçado ao poder, nota-se, além de certo açodamento nos vaticínios definitivos, um certo tom de espanto ao tentar esboçar uma leitura crítica dos Estados Unidos. A despeito de alguns bons insights e do repertório apresentado pelas exceções de sempre (há, sim, quem tenha lido, por exemplo, A Democracia na América, de Alexis de Tocqueville, do mesmo modo que ainda existem analistas que sabem que os Estados Unidos não foram fundados por Barack Obama em 2008), é surpreendente o número de comentaristas que, por má fé ou desleixo, ignora a importância da literatura norte-americana no difícil exercício da compreensão do outro.
No caso específico de Hawthorne, talvez seja o fato de se tratar de um autor do século XIX. De acordo com esse raciocínio, dos Estados Unidos que aparecem em seus textos não teria sobrado praticamente nada. E é aqui que repousa o grande equívoco.