Parte 3
Camus não escreveu A peste durante a Guerra, não foi o calor – ou o frio – do momento que o moveu. Se assim fosse, a vitória poderia ter abrandado o impulso. O projeto teve seu tempo de gestação na imaginação do autor porque havia muito mais a investigar. O resultado que temos mostra que mesmo a alegoria da ocupação nazista não dá conta de tudo que se pode ler nesse romance. Nascido em 1913 na Algéria, Camus passou sua infância sob o peso da guerra ou do pós-guerra. Apesar de órfão desde pequeno e da pobreza da família, conseguiu chegar à universidade. Nem a tuberculose o obrigou a parar sua mente questionadora e a busca por conhecimento. Em 1935 juntou-se ao Partido Comunista Francês, mas deixou-o no ano seguinte, quando foi fundado o Partido Comunista Argelino. Seus colegas franceses que lutavam pela liberdade (mas não a liberdade de todos) não toleraram a transferência: foi denunciado como trotskista e expulso do Partido. Juntou-se então aos Anarquistas e após a invasão nazista, entrou para a Resistência. Após a Guerra continuou a apoiar a esquerda, mas à medida que conheceu a realidade do comunismo, tornou-se ferrenho crítico, particularmente das políticas da União Soviética. Conheceu George Orwell e Arthur Koestler, ambos socialistas desencantados com os atos horrendos dos soviéticos na Guerra Civil Espanhola.