Parte 2
Na literatura mundial, há vários séculos, metáforas de epidemia e contágio têm um papel importante na formação da identidade dos leitores, por utilizar a doença para marcar, simbolicamente, grupos humanos de raça, classe ou religião, como outsiders. Diário do ano da peste, de Daniel Defoe, publicado em 1722, é um relato detalhado do retorno da epidemia de peste bubônica em 1665 na Europa. Em Londres, foi o último episódio da peste. É escrito na forma de um diário provavelmente baseado no relato de seu tio, Henry Foe, porque Defoe tinha apenas cinco anos quando a epidemia ocorreu.
Foi escrito em forma cronológica do ponto de vista de uma testemunha ocular, e contém digressões e repetições, aspectos frequentes na obra de Defoe, como em Robinson Crusoe e Moll Flanders. Explica em detalhe os procedimentos de lockdown realizados pelo governo da época e a psicologia das pessoas ao lidar com a doença e suas imposições. Neste ano de 2025, com a experiência do covid, tudo soa extremamente familiar: a perda de esperança de alguns, e como consequência, a quebra das poucas medidas de prevenção; a abnegação de outros, colocando em risco - e em milhões de casos, perdendo – sua vida; entre os líderes, a cegueira estúpida para preservar a popularidade de uns, por um lado, e a coragem em arriscar a destituição, por outro; a tomada de consciência do caminho moral, seja para segui-lo, seja para ignorá-lo.