#AQuedaDaGrandeBabilônia (2)
Sobre "Berlim", graphic novel de Jason Lutes, uma das obras-primas da nossa época.
[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
*Por Vicente Renner
Berlim em Crise
Em Berlim, Lutes nos mostra uma sociedade em crise, tanto pela indiferenciação, quanto pela consequente destruição da hierarquia estabelecida.
Isso aparece de forma anedótica logo no primeiro capítulo. Ao chegar em Berlim, Marthe se surpreende ao observar um pedinte veterano da Primeira Guerra Mundial. Kurt Severing, jornalista berlinense que ela conheceu no trem que lhe trouxe a cidade e co-protagonista da história, não percebe essa distinção: trata o veterano como um pedinte comum. Existe, nisso, indiferenciação; e, como sabemos pela percepção de Marthe, crise de hierarquia: um soldado veterano da Primeira Guerra Mundial, símbolo da ordem germano-prussiana pré-Weimar, não deveria estar nessa situação.
O próprio título do primeiro encadernado, City of Stones, é um exemplo disso. Ele é uma referência a um belo monólogo de Kurt Severing, no final do terceiro capítulo. Nele, Kurt expressa através de uma metáfora a possível dissolução de hierarquia que ele contempla. Berlim pode se tornar um muro, no qual cada pedra é colocada “com cuidado e com propósito”, ou uma “pilha de pedras”.