#ATorreEOPríncipe (1)
Os mistérios em torno de "O Leopardo", um dos maiores romances do século XX
*Por Rodrigo Duarte Garcia
“Quando se chega ao declínio da vida, é preciso tentar reunir o quanto possível as sensações que passaram por nosso organismo. Poucos podem assim ter sucesso em criar uma obra-prima (Rousseau, Stendhal e Proust), mas todos deveriam, de algum modo, buscar preservar as coisas que sem este leve esforço estariam perdidas para sempre”.
A afirmação é de Dom Giuseppe Tomasi, Duque de Palma, Príncipe de Lampedusa. Aos 58 anos, depois de uma vida toda imersa em leituras, ele começava a escrever sua autobiografia – I luoghi della mia prima infanzia –, na monumental tentativa de preservar um mundo que lhe escapava das mãos, em ruínas. Tendo por modelo e inspiração La Vie de Henri Brulard, de Stendhal, Lampedusa não conseguiu fazer dos seus apontamentos de primeira infância uma obra-prima, como o haviam feito os franceses em que se espelhava, mas o fato é que esse processo de atualização da memória abriu as portas para uma produção literária que iria consumir os seus últimos três anos de vida e resultar no assombroso O Leopardo, certamente um dos maiores romances do século XX.