Uma coisa que eu sempre vejo em livros que discutem as diferenças entre o cinema europeu e o americano é que o primeiro sempre é tido como mais livre e menos comprometido com a representação e realismo clássicos, algo recorrente e comum no caso do cinema dos EUA (o casal de críticos David Bordwell e Kristin Thompson levantam essas discussões em uma série de livros fascinantes acerca da história do estilo norte-americano de se contar histórias no cinema).
Ainda que isso seja verdade (e talvez seja), o que eu vejo é que críticos e acadêmicos, não obstante as críticas que fazem à obsessão pelo naturalismo e realismo do cinema americano, ficam revoltados quando veem algum filme baseado em fatos reais tomar liberdades com os mesmos. Vi muito disso na discussão sobre JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar (JFK, 1991, de Oliver Stone), por conta da restauração e lançamento de um “director’s cut”. Muitos críticos estão revoltados com esse relançamento, por conta das teorias conspiratórias absurdas contidas no filme. Bem, antes de mais nada, esses críticos deveriam atentar para os inúmeros méritos estéticos do filme, que vão desde a narração de Stone, passando pela exemplar atuação de Kevin Costner, até a fotografia brilhante de Robert Richardson. Mas não: eles estão preocupados com as teorias da conspiração apresentadas no filme. Lançado nos anos 90, JFK remonta aos filmes paranóicos dos anos 70, principalmente as conspirações políticas acerca do “complexo militar-industrial”. Falo de filmes como A trama (The Parallax View, 1974) e Todos os homens do presidente (All The President’s Men, 1978), ambos de Alan J. Pakula; Sob o domínio do mal (The Manchurian Candidate, 1962), de John Frankenheimer; Três Dias do Condor (Three Days of the Condor, 1975), de Sydney Pollack; e diversos outros.