#BandidosDaPaz
O que podemos esperar de um país em que facção criminosa faz comunicado oficial?
No Brasil, quando não temos solução para os problemas, a gente passa a conviver pacificamente com eles.
Já estamos acostumados com as particularidades brasileiras.
Quem, nesta altura do campeonato, vai ficar surpreso com facções criminosas fazendo comunicados oficiais pela imprensa?
Calma, cidadão. A cisão dos bandidos é pacífica.
Só não deu muito certo a joint venture anunciada em fevereiro para diminuir os tiroteios entre criminosos e “reduzir os custos da guerra de facção para garantir mais lucratividade nos negócios ilícitos”.
Eles não querem mais psicanálise nem gestão de crise. Preferem trocar tiros e viver perigosamente.
A imprensa noticiou, de forma pacífica, que "a ruptura entre as facções ocorreu de forma amigável e teria sido motivada por dois fatores principais”.
Senta que lá vem a história!
O primeiro fator foi a reprovação, por parte de integrantes do PCC, de práticas violentas atribuídas ao Comando Vermelho.
Eles são fofos. São bandidos que repudiam a violência.
O segundo fator é mais pragmático. Uns bandidos não curtiram que outros bandidos tenham usado suas rotas exclusivas para o tráfico de drogas e armas. “É preciso respeitar a regionalidade”, dizem eles.
Como para rir tem de fazer rir, a imprensa fez logo a sua apuração.
“Informações de inteligência apontam que a ordem de rompimento da aliança teria partido de Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP [vulgo pai do rapper Oruam] apontado como uma das principais lideranças do Comando Vermelho”.
Mas a advogada do pai do rapper Oruam, Flávia Froes, apressou-se para acusar a imprensa de fake news:
"Essa informação é falsa e fruto de conjecturas falaciosas, sem qualquer fundamento factual na realidade”.
Porém, nossos jornalistas de WhatsApp sempre têm seus especialistas que, nesses assuntos perigosos, só falam em off – e por mensagens criptografadas:
Na avaliação de pessoas que acompanham o tema em Brasília, apesar de a cúpula dos criminosos ter proposto essa trégua, o que aconteceu na rua foi diferente: os membros não se entendiam e não conseguiam conviver. Por isso, a parceria não teria dado certo.
O inferno são os outros, já dizia Jean-Paul Sartre.
Os bandidos não se entendem. Não conseguem conviver.
É um problema existencial que só poderia ser resolvido no divã de alguma penitenciária de segurança máxima.
O Brasil é um prodígio.
PCC e CV ainda vão abrir IPO.
O sociólogo zygmunt bauman dizia que preferimos segurança à liberdade e que o equilíbrio entre os dois seria uma fórmula de ouro para termos uma vida digna. No Brasil não temos segurança nem liberdade.