#Bernanos...
"Ninguém vê que, de fato, a civilização das máquinas exige uma disciplina cada dia mais estrita?"
Quando a sociedade impõe ao homem sacrifícios superiores aos serviços que lhe presta, podemos dizer que ela deixou de ser humana, que ela já não é feita para o homem, mas contra os homens.
Ninguém vê que, de fato, a civilização das máquinas exige uma disciplina cada dia mais estrita?
(…)
“A política em primeiro lugar”, dizia Maurras. A civilização das Máquinas também tem seu lema: “a Técnica em primeiro lugar! A Técnica em todo o lugar”. E vocês dizem para si mesmos que a técnica controlará, na pior das hipóteses, a atividade material de cada um, e como vocês esperam para amanhã a “semana de cinco horas de trabalho” e o parque de diversões aberto dia e noite, não há razão para que essa hipótese perturbe a sua quietude.
Cuidado, imbecis! Entre todas as Técnicas, existe a técnica da disciplina, e ela não poderia satisfazer-se com a antiga obediência, obtida com dificuldade por procedimentos empíricos, e sobre a qual se deveria dizer que era menos uma disciplina que uma indisciplina moderada. A Técnica pretenderá, cedo ou tarde, formar colaboradores arregimentados de corpo e alma para o seu Princípio, isto é, que aceitarão sem discussões inúteis sua concepção de ordem, da vida, suas Razões de Viver.
Num mundo inteiramente voltado à Eficiência, ao Rendimento, não será importante que cada cidadão consagre desde seu nascimento aos mesmo deuses?
(…)
Vocês realmente acreditam que um sistema desses, tão rigoroso, possa subsistir pelo simples consentimento? Para aceita-lo como ele quer que aceitemos, é preciso acreditar nele, é preciso conformar a ele por inteiro, não apenas os próprios atos, mas a própria consciência.
O sistema não admite descontentes…
— George Bernanos, A França contra os Robôs, É Realizações, 2018.