#BrasilParangolé
O vergonhoso pavilhão do Brasil na ExpoOsaka, os parangolés e o presidente da Suprema Corte brasileira
Na semana passada, o Neim mostrou o estranho pavilhão do Brasil na Expo 2025, que acontece em Osaka, no Japão.
Opa, não é essa. Errei. A foto anterior é do projeto arquitetônico original, que venceu o concurso que a própria ApexBrasil fez.
De algum modo ainda misterioso, o pavilhão realizado foi esse:
Marcello Dantas, curador de arte que venceu o concurso junto com o arquiteto Márcio Kogan, publicou uma mensagem em seu Instagram em que apresenta o projeto vencedor e afirma que ele não foi realizado graças aos esforços de Jorge Viana – o ex-governador do Acre que não sabe falar inglês e assumiu a presidência da Apex.
Depois disso, a Apex publicou uma resposta em seu Instagram endereçada “aos insatisfeitos que não conseguiram fazer o projeto que queriam” – ou seja, aos vencedores do concurso que a própria Apex realizou sob seu comando –, informando que o pavilhão atual é um sucesso.
A Apex menciona que há fila para entrar no pavilhão brasileiro. Resolvi ser incorrespondente internacional e fui verificar o sucesso em alguns sites japoneses.
De fato, depois da inauguração do pavilhão brasileiro, foi divulgado que havia a distribuição do que os idealizadores chamaram de Parangoromos – uma mistura dos parangolés de Hélio Oiticica que Caetano Veloso já vestiu, com hagoromos delicados e divinos, uma vestimenta tradicional japonesa de seda associada à leveza e à espiritualidade.
Mas os adolescentes japoneses que estavam nas filas queriam “a capa” que o Brasil estava distribuindo gratuitamente. Eles não fazem a menor ideia de como a capa lembra o hagoromo e, muito menos, sabem quem é Oiticica.
Aparentemente, é raro que um pavilhão ofereça brindes, tudo lá é pago, e o Brasil só entregou os objetos por dois dias. Então, talvez, a fila já tenha diminuído…
Muita gente não entendeu a proposta nem da “vestimenta”, nem da “decoração”:
No site ITMedia News, importante plataforma japonesa de tecnologia, a visitante descreve o pavilhão brasileiro:
“Um grande número de objetos brancos inflados estão se movendo. A palavra AIR está escrita nos pés. À distância, uma luz vermelha como o sol pisca. Eu não entendi nada”.
O evento tem recebido pouca atenção na imprensa brasileira de modo geral. Eu entendo. Deve ser um pouco constrangedor escrever sobre essas imagens e ter de passar pano.
Na imprensa japonesa o atraso na inauguração dos pavilhões de sete ou oito países (entre 160 participantes) foi muito noticiado. Lá estava o Brasil, com três dias de atraso fazendo muito sucesso.
No Uol, o colunista Raul Juste Lores, especialista em arquitetura, descreveu o desprezo do governo pelo projeto vencedor e o silêncio complacente dos especialistas.
Ele começou assim:
Imagine se Jair Bolsonaro ignorasse o resultado de um concurso de arquitetura para o pavilhão do Brasil na Feira Universal de Osaka e escolhesse um projeto simplesinho, sem dar explicações a ninguém? Seria chamado, é claro, de inimigo da cultura e da arquitetura (o que, é bom frisar, sempre foi). [...]
Rebaixaram a representação nacional para se instalar num caixotinho bem insípido. Um puxadinho emprestado pelo governo japonês.
Lores faz uma longa crítica ao fato de que todo o pessoal da área se calou sobre o assunto. Simplesmente fingiu que nada aconteceu, depois de ter celebrado muito o belo projeto que venceu o concurso. Tudo para não “melindrar o partido do coração”. Se fosse qualquer outro governo, segundo Lores, a carta do fascismo já teria sido puxada rapidamente.
O jornalista é excessivamente respeitoso ao chamar o projeto efetivado, com sacos de lixo e cadeiras dobráveis, de simplesinho. Bia Lessa é muito conceituada na área de cenografia, mas...
Bia Lessa, a idealizadora desse cenário, disse à Folha que “os infláveis são meio homens, meio plantas. As paredes são cobertas de sacos de lixo. ‘E tudo isso respira o tempo inteiro. Ele é vivo, não é parado. E ele morre e renasce’.
Como em toda produção de mau gosto, a explicação e o argumento juntam nada com coisa alguma.
Lores, porém, ressaltou a importância que os países “mais espertos” dão à arquitetura num evento como a Expo 2025. O evento é uma vitrine para promover a economia, a produção e a exportação de serviços. Mas, conforme o jornalista, os governos petistas sempre rifaram a arquitetura sem jamais serem cobrados por isso.
Quando Dilma entregava conjuntos habitacionais, e só reclamava da falta de porcelanato, ninguém ironizava a ignorância da mandatária...
Nenhum arquiteto ou urbanista ocupou o cargo de ministro das Cidades desde 2003... Só houve escândalo quando Bolsonaro extinguiu esse ministério, um dos balcões favoritos das empreiteiras de conjuntos populares. Quando Bolsonaro xingava o Iphan, causava revolta. Quando Lula disse ter “bronca de tombamento” e perguntou “Pra que serve o Iphan?”, apenas rolaram algumas lágrimas, em silêncio. Isso se chama relação abusiva. Calam-se, sem se defender.
Rui Costa, o todo-poderoso ministro de Lula, fez um hospital com cara de castelo da Disney na cidade de sua mulher porque assim a primeira-dama sugeriu... Um governador direitista de Santa Catarina faria o mesmo, não duvido, mas seria ridicularizado imediatamente.
Um governo que nunca prezou pela austeridade econômica, que nunca economizou com os empreiteiros amigos, que gasta R$ 1,5 bilhão para fazer uma obra em 8 km de rodovia, que gasta milhões de reais em cartão corporativo, achou caro o projeto arquitetônico respeitável. Afinal, quem é que vai querer gastar para fazer o Brasil parecer um país de respeito? Nem a Esbanja, que adora viajar às nossas custas, foi lá vestir o parangolé do sucesso.
Maaas o presidente da Suprema Corte brasileira foi.
Por que o Brasil? Estabilidade institucional, segurança jurídica e ambiente de negócios, foi o título da apresentação do presidente da Suprema Corte brasileira – hoje, com profundo pesar, deixo de lado o Perdeu Mané, para enfatizar o presidente da Suprema Corte.
Ele foi a Expo 2025 tentar fazer o Brasil parecer um país de respeito. Sim. O presidente da Suprema Corte brasileira, orgulhoso de seu papel institucional, foi defender a economia brasileira em mais um evento internacional. Um evento (des)organizado pelo sujeito que precisou descartar a fluência em inglês como requisito para presidir uma agência voltada para promover o Brasil no mercado internacional. Lá estava o presidente da Suprema Corte brasileira legitimando a coisa toda e promovendo o Brasil no mercado internacional como todo bom presidente de uma Suprema Corte deve fazer.
O presidente da Suprema Corte brasileira propagandeou o PIB, o SUS e disse que a estabilidade institucional brasileira é preservada com vigilância, contra golpes mesmo de líderes eleitos que, segundo o presidente da Suprema Corte brasileira [estou sendo repetitivo?], tentam descontruir os pilares da democracia.
Como Lula nunca desconstruiu os pilares da democracia, o presidente da Suprema Corte brasileira estava ali entre os infláveis que são meio homens, meio plantas, rodeado por paredes cobertas de sacos de lixo... será que sobrou um parangolé para ele?
Mesmo que Lula fosse o grande democrata que essa gente insiste em vender, como explicar um magistrado, presidente da Suprema Corte, se rebaixar a garoto-propaganda do governo em um evento internacional de negócios? Um governo que, para representar o país, troca o que tem de melhor na arquitetura por paredes cobertas de sacos de lixo. Eu sei. Faz todo o sentido, é claro. Mas não consigo evitar a vergonha.
Vergonha?????
faz tempo que perdemos..
Vergonha e indignação! Fiquei sabendo ontem desse absurdo.