No país onde os salvadores dos pobres e dos trabalhadores roubam dos aposentados, saber que ao menos o tal Careca do INSS foi preso é alguma forma de boa notícia. Mas, na verdade, a pergunta que se deveria fazer é por que ele já não estava preso.
Entre tantos carecas dispostos a tornar a república ainda mais bananeira, essa nova figura dos noticiários tem seu próprio modo de ser repugnante.
Antonio Carlos Camilo Antunes (o Careca) é acusado de comandar um esquema que desviou mais de R$ 50 milhões de aposentados e pensionistas. O dinheiro roubado serviu para engordar bolsos de lobistas, empresários e servidores, bem como para pagar carros, imóveis e viagens de luxo.
Um dos beneficiários foi o empresário Maurício Camisotti, também preso em São Paulo.
Um ex-funcionário, sob proteção por ameaça de morte, revelou que Antunes estava liquidando sua frota de carros de luxo por valores abaixo do mercado, pois planejava fugir para os EUA. Os carrões eram parte da lavagem do dinheiro roubado das contas dos aposentados.
O mesmo ex-funcionário explicou que Antunes transportava dinheiro em espécie para Brasília todas as sextas-feiras e pretendia deixar seu filho à frente de um call center de cinco andares, operando consignados fraudulentos contra aposentados.
O nome da operação não deveria ser Sem Desconto. Deveria ser Sem Vergonha, Sem Caráter, Sem Decência, Sem Escrúpulos...
A chance do careca ser solto muito antes da moça do batom é gigantesca.
Nesse caso como em tantos outros no Brasil, a corrupção foi hiperbólica e institucionalizada, imagine montar um call center para operar o dinheiro desviado.
No Petrolão, a Odebrechet abriu uma off-shore para realizar o pagamento de propinas - o fato está relatado no livro "A Organização" da jornalista Malu Gaspar.
Tudo isto não aconteceria sem envolver servidores públicos e/ou até mesmo o núcleo duro do governo.