Ontem, o ministro Toffoli esteve no casamento do presidente do TCU, Bruno Dantas, em São Paulo, e lá jantou com os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Segundo a cobertura do jornal Valor, “permaneceram a maior parte do tempo numa salinha reservada, com seguranças na porta”.
Havia um constrangimento muito grande no ar, após a publicação de um relatório da Transparência Internacional sobre a incapacidade do Estado brasileiro combater a corrupção.
Na mesma semana, o ministro Toffoli anulou a multa de 6,8 bilhões do acordo de leniência da Odebrecht. E na semana anterior, já tinha anulado a multa da J&F, de 11 bilhões, empresa em que a sua esposa presta serviços jurídicos.
O argumento para ambas as anulações é o mesmo: os mais poderosos bilionários do país, comprovadamente corruptos, assessorados pelos melhores e mais caros escritórios de advocacia do país, foram ludibriados a assinar, sob coação, os acordos de delação premiada.
Mas o problema é que essas delações premiadas, além de terem sido celebradas, em comum acordo, pela Procuradoria Geral da República e os mais caros escritórios de advocacia do país, ainda foram homologadas pelo mesmo Supremo Tribunal Federal que agora vem anulando todas as sentenças.
Mas se um simples relatório já havia deixado muita gente incomodada, um post no twitter da Transparência Internacional, dando nomes aos bois, talvez tenha até estragado a festa de casamento do presidente do TCU.
Ninguém sabe ao certo o que ocorreu naquela salinha reservada aos ministros Toffoli, Mendes e Moraes, com sua guarda pretoriana na porta.
Mas o eventos que ocorreram depois do jantar podem ser intercalados mais ou menos assim:
A primeira tentativa
O ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, foi escalado para questionar a metodologia do relatório da Ong Transparência Internacional, que não é nada favorável à Justiça brasileira. Vinicius de Carvalho teve amplo espaço na Rede Globo para apresentar suas críticas. Defendeu o governo atual, acusou o governo anterior, fez um apanhado geral e muito abstrato dos problemas da corrupção no Brasil.
Mas é difícil convencer a população brasileira. Ela consegue percebe sozinha, sem relatório da Transparência Internacional, que o Estado sempre foi incapaz de combater a corrupção, ainda mais com perdão de multas bilionárias e tantas histórias mal explicadas.
A segunda tentativa
O deputado petista Rui Falcão e os advogados do grupo Prerrogativas entraram com uma notícia crime no STF, questionando, não o relatório, mas uma possível participação da Org Transparência Internacional em projetos de combate à corrupção em 2014. Os recursos seriam oriundos do acordo de leniência da J&F.
Na sua decisão, Toffoli determina que os documentos sejam enviados à CGU de Vinicius Marques de Carvalho, e ao TCU de Bruno Dantas, para “investigar eventual apropriação indevida de recursos públicos por parte da Transparência Internacional”.
O diretor-executivo da Transparência, Bruno Brandão, deu uma resposta ao despacho Toffoli:
“são acusações falsas e levianas. Jamais recebemos qualquer recurso e nossas contas estão abertas, auditadas de forma independente e publicadas”.
A imprensa está dando ampla cobertura, ainda sem entender direito se o caso é de competência do STF e se haveriam fatos concretos para tal acusação.
Mas a gente sabe que é só retaliação.
A terceira tentativa
É a hora de entrar em cena um jornalista experiente e bem informado. Reinaldo Azevedo. Ele acha um absurdo juízes e procuradores conversarem a respeito de um processo, mas não vê problema algum que, um dia depois de juízes, desembargadores, políticos e empresários com históricos de corrupção se encontrarem em salinha reservada, com guardas na porta, surja uma decisão estapafúrdia, motivada exatamente pelo grupo de advogados que representam as empreiteiras acusadas de corrupção.
A última tentativa
O senador Ciro Nogueira estava avulso no jantar de casamento do presidente do TCU. Sem acesso à salinha secreta com guardas na porta, acabou sendo abordado pela imprensa. Perguntaram-lhe se era possível ressuscitar a Lava-Jato por conta da suspensão das multas bilionárias das empresas corruptas. Ele foi categórico:
“A população não está preocupada com corrupção; ela está mais preocupada com a vida real”.
É verdade. A realidade é que a luta contra a corrupção se tornou uma mera fantasia impressa nos relatórios da Transparência Internacional.
Fica difícil achar palavras para exprimir o asco, a raiva que essas figuras despertam.
Rapaz, essa gente lá de Brasília, sei lá. Não deixaria meus filhos conviverem com ela. Péssima influência.