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"O Leopardo" de Giuseppe di Lampedusa se tornou um tipo de profecia autorrealizável
Lá vinha o velho conde, de poeira no ombro direito e olhar de quem já viu trocadilhos de história — como Dom Fabrizio, o príncipe Salina em O Leopardo, cuja casa ergueu‑se imponente, num momento em que “tudo sempre muda para que tudo fique como está”. Ele contempla o salão: lustres opulentos, pinturas famosas em moldura dourada, velas acesas numa dança lenta de fumaça e memória.
Mas, de tempos em tempos, as coisas mudam para manter tudo na mediocridade. O príncipe de Salina, aristocrático no melhor sentido do termo, vê a barbárie adentrar ao nobre salão. Maltrapidos em baile de gala.
Com o Risorgimento (unificação italiana), veio a ascensão da burguesia que criou os “novos ricos”, senhores dos valores ligeiros e cultura superficial. Por dentro, Dom Fabrizio reclama: “Gente sem decoro, que têm pressa, vive de ostentação barata”. Ele tem todas as qualidades e todos os defeitos de um ser humano normal, mas é educado demais para dizer em voz alta o que pensa dos “novos ricos”. E de que adiantaria? Seu mundo aristocrático de lustres opulentos, pinturas famosas em moldura dourada, com alta cultura e refinamentos já não existe mais. Pelo menos da forma como ele imaginava.