#DaGraçaAoAbsurdo
Camus enxergava em Simone Weil um farol ético, alguém capaz de transformar a filosofia em vida
Albert Camus via em Simone Weil não apenas uma filósofa brilhante, mas uma raridade intelectual em um século devastado por ideologias e pelo niilismo. Chegou a afirmar, numa carta à mãe de Simone, que ela era “o único grande espírito do nosso tempo”, uma sentença que resume a potência moral e filosófica que ele reconhecia nela.
Após a morte de Simone em 1943, Camus tornou-se um dos principais responsáveis por fazer sua obra chegar ao público. Na editora Gallimard, publicou textos póstumos como O Enraizamento, acreditando que suas reflexões poderiam ajudar a reconstruir espiritualmente a Europa do pós-guerra. A afinidade entre os dois não era apenas literária, mas política e humanista. O curioso é que jamais se encontraram.
A admiração de Camus por Weil assumia também um caráter pessoal, quase devocional. Ele chegou a visitar os pais de Simone e a passar alguns minutos em silêncio no quarto onde ela viveu, como se estivesse diante de um relicário. Quando recebeu o Nobel, citou-a como uma presença constante em sua vida intelectual, dizendo que nem a morte separa os verdadeiros amigos.
No plano filosófico, Camus encontrou em Weil uma interlocutora singular. A crítica dela à opressão social, suas reflexões sobre o sofrimento e seu combate à desumanização ecoam temas centrais que Camus desenvolveu em O Homem Revoltado, e também nas suas reflexões sobre a condição absurda. A ideia de que a justiça precisa ser vivida e não apenas pensada aproxima fortemente os dois pensadores.
Camus enxergava em Simone Weil um farol ético, alguém capaz de transformar a filosofia em vida, de unir pensamento rigoroso a uma compaixão radical. O pensamento de Simone antecipou o que ele via como o futuro intelectual da humanidade. E tinha razão. Quanto mais lemos Simone Weil, mais compreendemos a frase de Camus à sua mãe: ela foi “o único grande espírito do nosso tempo”.
No diálogo quase silencioso que mantiveram, permanece viva uma das mais belas alianças intelectuais do século XX.




Sempre amei o Camus embora tenha chegado em minha cidade e achado ela feia suja, enfim uma merda, e tinha toda a razão. Essa amizade desconhecia. Obrigado. Abraço forte.