#DebaixoDaBurka
Rabia, filme de estreia da diretora Mareike Engelhardt, é de uma coragem ímpar no cenário cultural contemporâneo.
Enquanto o Brasil se prepara para acompanhar o julgamento de Jair Messias Bolsonaro, eu fui ao cinema assistir um dos filmes mais corajosos dos últimos tempos.
Falo de Rabia – As esposas do Estado Islâmico, da diretora Mareike Engelhardt, filme que retrata a vida das mulheres que seja por fé, esperança, desespero ou autoengano, foram buscar uma vida com sentido e digna sob a bandeira do Estado Islâmico.
A trama se desenvolve a partir da vida de duas jovens amigas, Jessica (Megan Northam) e Laila (Natacha Krief) que vivem na França e trabalham como enfermeiras, uma vida simples, modesta, mas sem perspectiva ou esperança. Logo nas primeiras cenas ficamos sabendo que Laila foi convidada por um sírio para viver uma “nova vida” em Raqqa, na Síria. Ela convence Jessica a acompanha-la, e ser a ‘segunda esposa’ de seu homem. Ambas embarcam e o voo é uma promessa de paraíso, mas a realidade logo se torna um pesadelo dantesco. Logo ao chegar elas são levadas para uma casa onde outras mulheres se encontram à espera de seus “maridos”. Seus celulares e qualquer coisa ocidental devem ser entregues no abrigo para mulheres. Em um questionário, elas devem declarar, entre outras coisas, quantos filhos desejam ter. A partir de agora, ainda que elas não tenham consciência disso, elas são prisioneiras do Estado Islâmico.
Enquanto aguardam o prometido casamento elas vivem e compartilham a vida em comum com outras mulheres de diferentes nacionalidades, mas que se agrupam ainda de acordo com suas origens: há grupos de francesas, americanas, etc. As condições são precárias, mas isso parece não incomodar essas mulheres, tudo parece uma grande e exótica aventura, com o bônus de ser uma aventura que envolve a descoberta de uma fé que purifica e redime aquelas vidas vazias.
A personagem mais importante desta “casa de mulheres” é Madame (Lubna Azabal), cuja história é baseada na vida de Fatiha Mejjati, viúva de Karim Mejati, membro da Al-Qaeda. Ela administrava vários abrigos para mulheres (Madafas) em Raqqa, Síria, sob o nome de Oum Adam. Ela era conhecida como a "viúva negra da jihad", aquela que seria a “esposa perfeita de Alá”. Engelhardt concentra-se nos métodos pérfidos de Madame para tornar as mulheres submissas. E a submissão das mulheres se dá de forma brutal, aterrorizante e violenta.
Com a ajuda de Céline Martelet e Edith Bouvier, duas especialistas francesas em jihadismo, ela entrou em contato com jovens mulheres que viviam nas madafas de Oum Adam. Engelhardt também organizou encontros supervisionados com testemunhas contemporâneas para que Megan Northam e Natacha Krief tivessem maior contato com a realidade da vida das suas personagens. No set, Engelhardt e sua equipe também foram aconselhados por uma ex-integrante de uma dessas madafas.
Como não existem fotos nem vídeos de uma dessas casa para mulheres, Engelhardt, juntamente com o cenógrafo Dan Bevan, criou um local que complementasse a dramaturgia. O filme foi rodado na antiga fábrica da France Tabac em Sarlat-Périgord Noir, França, que nas primeiras cenas parece um abrigo para refugiados. Mas a casa parece não ter fim e ao longo da narrativa outros locais vão se descortinando.
Há os aposentos de Madame, confortáveis, com tecidos esvoaçantes e decoração convidativa, mas punições brutais são executadas no porão, longe do olhar alheio, em quartos que são considerados “sagrados”, muito aqui lembra alguns dos cenários e cenas do filme de Theo Dreyer sobre Joana D’Arc. Algumas cenas são quase insuportáveis mas sem ser explícita. Em vez de violência, temos os seus vestígios.
A partir de então, Rabia passa por todas as etapas de um abrigo para mulheres até se tornar o cruel braço direito da Madame. Quando reencontra Laila, Jessica é uma pessoa diferente. Ela mimetizou tudo que enxergava em Madame como poder, força e ódio. A cena central do filme é aquela que ocorre quando a cidade síria está sob ataque, Madame reúne as jovens mulheres e faz um discurso prenhe de fanatismo jihadista: "Nós amamos morte, eles amam a vida. É por isso que iremos prevalecer.” As mulheres - especialmente Rabia - a sua volta gritam cada vez mais alto “Allah Akbbar, Allah Akbbar”. Quando Rabia finalmente se depara com as ruínas de sua vida é que ela finalmente compreende o que perdeu e o que nunca teria naquele lugar: ainda que humilde, ainda que modesta, ainda que aparentemente insignificante, a sua liberdade!
Na vídeo aula marketing existencial, Luiz f. Pondé sintetiza de forma perfeita as formas q buscamos para fugir da angústia ou encontrar um sentido para a vida. Na atualidade trocamos a fé no inominavel e passamos a acreditar no prazer, no consumo e nos políticos. Não deu certo.
Filmaço!