#DelíriosLulistas
Soberania bananeira: navios iranianos, afagos a ditaduras e distanciamento dos EUA
Boa parte da imprensa é freguesa fiel do PT há muito tempo e, portanto, muitos são os jornalistas que compram e revendem as narrativas petistas com alegria e entusiasmo.
Com a brilhante ajuda dos Boçalnaros, essa mesma imprensa comprou a recente narrativa de que os Estados Unidos, mauzões, fecharam as portas para o acessível, bondoso, frondoso e democracioso Brasil. E isso aconteceu por culpa da extrema-direitice do governo Trump.
Muitos brasileiros, sempre tão autoenvolvidos e encantados com o reflexo do próprio umbigo, acreditam piamente que Trump acorda pensando no Brasil e nos atacou porque somos muito lindos, tropicais e transbordantes de tanta democracia.
Somos mesmo uma ameaça estética e moral ao império.
Outros juram que ele nos agride porque vê nos Boçalnaros toda essa formosura. Seriam os bozós os próprios conselheiros, amigos de fé, irmãos camaradas de Trump.
Trata-se de uma espécie de complexo de vira-lata em versão deluxe. Com filtro patriótico e delírio geopolítico.
Devem ser formas muito mais estimulantes de ver a vida do que, por exemplo, ler a respeito das decisões sobre a política externa brasileira desde o início dessa nova era molusca...
Além de discursos esdrúxulos de Lula – nos quais ele atribui culpa a israeleneses e ucranianos por serem atacados respectivamente por terroristas e um ditador assassino –, desde o início do terceiro reinado lulístico, a política externa persistentemente contraria o Ocidente e, em especial, os EUA.
Mas Lula, Celso Amorim, José Dirceu e tantos outros jovens revolucionários de ideias frescas e vigorosas, sempre contornam o pouco interesse da imprensa em contrariá-los dizendo que tudo é questão de soberania e multilateralismo – quando Lula, com sua cativante fluência, diz essas duas palavras, petistas pelo mundo tremem de tanta devoção.
Em entrevista recente ao Roda Viva, cada jornalista cordeiramente fez perguntas suaves a Celso Amorim. Mesmo quando tocavam em assuntos mais melindrosos, rapidamente desistiam de pressionar para obter respostas mais claras. Escorregadio, Amorim, com certo ar blasé, tentava parecer um sábio em sua área. De fato, como já afirmou o nosso doge de Veneza aqui por essas bandas: Amorim é o Goering do nazilulismo. Um gênio.
Questionado sobre a possibilidade de convocar a embaixadora brasileira de Washington, como fez com o embaixador em Israel, Amorim respondeu que a extrema-direita deseja que o governo faça algo mais contundente para romper relações com os EUA. E eles, espertinhos que são, não vão escorregar nessa casca de banana imperialista.
Porém, contudo, entretanto e todavia, antes de Trump vencer as eleições, Celso Amorim já jogava cascas de bananas bananeiras made in Brazil para todo lado. Tudo em nome do multilateralismo e da soberania, claro. Uma multivariedade de regimes terroristas ou ditaduras podem ser veneradas, sustentadas e apoiadas, porque, ao contrário da Constituição, Amorim é soberano na soberania nacional.
Um exemplo muito claro da conduta do governo brasileiro em relação aos EUA, ainda no governo de Biden – ou seja, sem extrema direita envolvida na situação – foi a recepção dos navios iranianos no porto do Rio de Janeiro em fevereiro de 2023. Ignorando pressões diplomáticas americanas, européias e até isralenses, dando de ombros para as sanções internacionais que vigoram em virtude da invasão da Ucrânia pela Rússia, Celso Amorim insistiu que receber os navios era um ato de soberania e neutralidade.
Na época, Lula estava visitando Washington e o governo adiou um pouco a permissão para os navios atracarem. Mas depois do encontro entre Lula e Biden, a autorização foi publicada no Diário Oficial.
A ação gerou revolta na embaixada americana, senadores republicanos repudiaram o governo brasileiro. Consultas ao Parlamento europeu foram feitas, no sentido de questionar se o Brasil não deveria sofrer sanções diante de tanta “neutralidade”.
Elizabeth Bagley, embaixadora americana no Brasil, alertou que essas embarcações poderiam facilitar o comércio ilícito de drogas e armas, bem como o terrorismo. Nem foi ouvida. Tanto ela quanto o Departamente de Estado americano ressaltaram que nenhum país do hemisfério havia autorizado a ancoragem. Ninguém ligou.
Tranquilo, Celso Amorim fingia não entender a indignação. Afirmou que o Brasil, além de ser um país soberano, mantinha boas relações com o Irã: “O Irã não é nosso inimigo. Temos relações normais, boas com o Irã, e estamos agindo de acordo com o direito marítimo internacional. É uma decisão soberana nossa.” Entre direitos humanos e direito marítimo, Amorim não poderia mesmo escolher outra coisa.
Nos EUA, Ted Cruz se manifestou: "Esses navios de guerra iranianos já estão sancionados e, portanto, o porto do Rio de Janeiro onde aportaram agora corre o risco de sanções incapacitantes, assim como quaisquer empresas brasileiras que lhes prestaram serviços ou aceitaram pagamentos – e também todas as empresas estrangeiras que se envolverem com o porto ou dessas empresas brasileiras no futuro". O senador republicano classificou Lula como um “chavista alinhado contra os Estados Unidos e nossos interesses". Ele exigia que o governo Biden tomasse providências contra o Brasil na época: "A administração Biden é obrigada a impor sanções relevantes, reavaliar a cooperação do Brasil com os esforços antiterroristas dos EUA e reexaminar se o Brasil está mantendo medidas antiterroristas eficazes em seus portos. Se o governo não o fizer, o Congresso deve forçá-los a fazê-lo".
O caminho lindo e florido no qual estamos foi aberto pelo PT. Ainda que os Boçalnaros, como jovens militares aplicados, tenham ajudado a pintar o meio fio de branco, o caminho já estava lá e ainda está aqui... Sorriam, leitores.
Os ataques de Lula a Trump, longe de serem gestos de soberania como diz Amorim, são apenas bravatas ideológicas que não impõem nada. Só isolam. Chamar de nazista o então candidato e depois presidente dos Estados Unidos não é diplomacia, é autossabotagem. E quando dizem que o Brasil não deve se humilhar, o que realmente querem dizer é que Lula não quer passar vergonha. Trump não vai perder um segundo do seu sono, mas os brasileiros, empobrecidos pela diplomacia birrenta e farsesca de Amorim, talvez percam o jantar.
Ao mesmo tempo em que Celso Amorim e Lula se apresentam como fervorosos defensores do diálogo global, são incapazes de dialogar com os EUA. Se a Roda fosse mesmo Viva, as perguntas que deveriam ser feitas são: os regimes dos quais o Brasil tem se aproximado trazem qual tipo de benefício para o país? Com qual país o Brasil tem mais afinidades em termos de princípios de Estado? Com a Rússia, com o Irã, com a Venezuela ou com os Estados Unidos?
O Haiti é aqui.
Como adoro esses textos, nem consigo explicar. Estou tão acostumada com nossa imprensa, em geral, que ao ler algo assim, faz com que me sinta num oásis.