#Desaparecidos&Desaparecimentos
De como novas formas narrativas criam novas histórias no nosso novo mundo
É interessante notar que, nos anos de 2020-2022, tivemos a explosão de uma subcultura bastante específica na Internet: a da liminaridade. Comunidades no Reddit, páginas de Instagram e centenas de vídeos no YouTube pipocaram nesses anos, todas elas determinadas a explorar e compartilhar imagens, histórias pessoais e contos que lidam com o tema. A principal delas foi a história das Backrooms, originada no site CreepyPasta.
O CreepyPasta é basicamente uma comunidade digital que agrega artistas e escritores amadores que compartilham imagens e contos de horror. No fundo, nada mais que é uma versão digitalizada da milenar arte de se sentar em volta de uma fogueira e contar histórias de assustar. Diversos fenômenos culturais recentes se originaram nesse site, como o monstro Slender Man, que se tornou um fenômeno midiático considerável. Primeiro, fotomontagens de parquinhos e outros locais frequentados por crianças, onde sempre podemos vislumbrar uma figura estranha ao fundo: um humanóide, alto, esticado, sem rosto, vestindo um terno. A partir destas fotomontagens, toda uma mitologia e história pregressa foi criada por diversos usuários. O “folclore” de Slender Man cresceu consideravelmente, sendo explorado em webséries - a brilhante Marble Hornets (2009-2014, 133 episódios) é o maior exemplo -, jogos de videogame, histórias em quadrinhos e dois longa-metragens (os dois péssimos). E, infelizmente, também inspirou um crime real, onde duas meninas conspiraram para assassinar uma terceira, com facadas. (sobre isso, recomendo o documentário Beware the Slenderman, 2016, de Irene Taylor Brodsky, disponível na HBO Max). As Backrooms fazem parte deste mesmo ambiente cultural, mas o horror é muito mais indireto que o de Slender Man: é a fotografia de uma sala vazia. As paredes são nuas, talvez com um papel de parede desgastado, amarelado. O carpete que cobre o chão é bege. A luz é artificial, fosforescente. E a qualidade da imagem em si remonta ao filme fotográfico usado em câmeras analógicas amadoras, dos anos 90. Somente a imagem foi postada, mas de repente, uma torrente de comentários e outras imagens semelhantes foram postadas seguindo a original. O público se engajou e começou a produzir uma infinidade de conteúdo adicional, criando uma verdadeira mitologia complexa elaborando sobre essa simples imagem de um “não-lugar”. É interessante, porque é como se ela tivesse despertado algo que pertencesse ao inconsciente coletivo de pessoas do mundo inteiro. E então, claro, veio a minissérie.
Postada pelo cineasta e criador digital Kane Pixels há pouco mais de um ano, The Backrooms (Found Footage) é um curta-metragem de horror de menos de dez minutos de duração. Desde seu lançamento, o curta soma mais de 43 milhões de visualizações no YouTube. Como o próprio título diz, trata-se de um curta found footage. Desde já adianto que não sou exatamente um grande entusiasta do gênero. Acho A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999, de Eduardo Sanchez e Daniel Myrick) brilhante, e gosto bastante de Cloverfield - Monstro (Cloverfield, 2007, de Matt Reeves) muito bom. Mas só. The Backrooms, assim como Marble Hornets, são os melhores exemplos do gênero (ao meu ver), após estes dois filmes que citei.