#DesarmoniaAntecipada
O Laranja continua a frustrar as expectativas do jornalismo profissional
Donald Trump segue irritando a imprensa.
Nas manchetes, é como se o jornalismo profissional ainda se questionasse:
“Mas foi isso mesmo? Joe Biden perdeu a eleição?”
O texto da correspondente Julia Chaib na “Folha de S.Paulo” de hoje é significativo dessa reação:
Ao assumir o cargo, em 2021, pegou um país assolado pela pandemia da Covid-19 e em crise econômica. Os efeitos da doença levaram os EUA a atingirem uma inflação de 9,1%, a mais alta em 40 anos. Quatro anos depois, ele se despede da cadeira mais poderosa do mundo com uma inflação de 2,9% e situação próxima do pleno emprego.
A recuperação da reta final, porém, não foi suficiente para mascarar o sentimento provocado pela alta dos preços entre os americanos, um fator que contribuiu de forma decisiva para o retorno de Trump ao poder.
Para cientistas políticos, a lembrança que ficará da gestão democrata será negativa. A ele será atribuída a culpa pela derrota eleitoral. Biden desistiu da candidatura à Presidência faltando só três meses para a eleição.
Biden, ele próprio, talvez rejeitasse essa atribuição de culpa apresentada pela repórter. “É presunçoso dizer isso, mas eu acho que sim, com base nas pesquisas”, disse Biden em entrevista ao jornal USA Today, publicada em 8 de janeiro (nota do estagiário: o fato de uma das melhores entrevistas com o mandatário ter sido publicadas pelo USA Today mostra como o café de Biden está frio).
Seja como for, a imprensa lamenta não por Biden, a quem no fundo despreza por ser um homem branco e velho, mas pelo fato de que o próximo presidente é Donald Trump, a soma de todos os medos do establishment midiático. Ao final deste mandato que começa na próxima segunda-feira, o Laranja terá permanecido influente na política americana por mais de uma década – obliterando, assim, Barack Obama, cuja esposa, Michele, não irá à celebração da posse, conforme disse sua assessoria. Sinal dos tempos: os Obama são mais notícia pela sua ausência do que por sua presença.
Enquanto Trump não assume de fato, os efeitos de sua influência na política mundial são percebidos como se fosse a antecipação da fatura do cartão de crédito.