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A tragédia gaúcha prova que estamos iludidos pela ideia de progresso

É um clichê dizer que a tragédia aflora o que há de melhor e de pior no ser humano. Estamos vendo isso acontecer nas enchentes do RS: grupos de pessoas arrecadam e doam para famílias necessitadas ao mesmo tempo que outros roubam barcos para saquear casas vazias. Só que o famoso chavão parece ir além da esfera da ética, servindo também para o mundo abstrato das ideias.

Na mídia e nas redes sociais de perfis de esquerda, a tragédia gaúcha está sendo associada ao bolsonarismo e, consequentemente, ao negacionismo climático. Outros perfis associam ainda a destruição da infraestrutura causada pelas chuvas a um suposto enxugamento estatal realizado pelo neoliberalismo tucano de Eduardo Leite. Já no espectro político contrário, nos posts de perfis de direita, são as teorias da conspiração que predominam: fala-se da "arma geofísica" dos EUA, a HAARP, que teriam usado o estado gaúcho como alvo; assim como o envolvimento do governo Lula para acabar com o arroz do sul do país a fim de importá-lo da Venezuela (outras versões associam o arroz a algum plano de reconstrução bancado pela China). Dessa vez, pelo menos, ninguém falou de “racismo ambiental”, talvez pelo fato de os gaúchos, em sua maioria, serem brancos.