Vocês já devem ter percebido que existe um clichê relativamente novo em Hollywood. Seria a idéia de que o preto no branco não existe mais, apenas as tais áreas cinzentas, e por isso os vilões não seriam mais tão vilões assim. Eles teriam as suas justificativas e motivações que vão além do certo e do errado.
É um conceito repetido com frequência nos atuais blockbusters. É possível até ouvir os diálogos nos filmes verbalizando isso literalmente: “O mundo mudou, as coisas não são mais como eram antes, quando era possível distinguir quem era do bem e quem era do mal”.
Já ouviram algo assim em filmes recentes?
Quando nem produtor de filme entende a maldade que ele mesmo cria na ficção é porque existe uma crise de valores e referências. Ou então é porque a maldade atual está injetando muito dinheiro em propaganda.
Hollywood ou você, estimado leitor, tem alguma dúvida, por exemplo, de quem eram os vilões na Segunda Guerra Mundial? Algum Blockbuster já foi feito para relativizar a vilania de Hitler?
Não.
Ok!
Hoje temos um homem poderoso que já foi preso por corrupção, que é amigo de ditadores e que declara apoio oficial a um grupo terrorista que assassina bebês e idosos indefesos na frente das câmeras. Parece até um vilão de filme da época que era tudo preto no branco, não?
Qual é a área cinzenta aqui? Qual a dúvida se isso seria ou não vilanesco?
Se a segunda guerra fosse hoje, de qual lado esse grupo de pessoas estariam?
É realmente díficil distinguir?
Pra mim as coisas continuam preto no branco.
O único clichê aqui é “Me diga com quem andas e eu te direi quem és”.
Perfeito! Lembro-me que uma parente, que trabalhou na emergência de um hospital, me dizia que depois de anos CONVIVENDO com os horrores diarios de sofrimento humano, tudo, inclusive as falhas no sistema de saude sao relativizadas pois ficamos “imunes” a dor e a indignação. Eles contam com isso! O Brasil é uma emergência de um hospital de quinto mundo, e quem vive nele, só pode estar anestesiado. O Brasil, antes gigante adormecido, é um gigante comatoso.
A grana é a motivação. A forma é a abertura para a narrativa e a sustentação é a regressão do QI da plateia. Deixei de assistir à versão teatral de Uma Linda Mulher, depois que a diretora afirmou ter inserido, por conta própria, uma canção em que Vivian explica por que havia se tornado uma prostituta. Segundo ela, o público ansiava por uma explicação. Lógico, que não passa de pretexto para culpar a sociedade materialista, a família tradicional, o patriarcalismo, o machismo, etc. Hoje, se não for tudo muito explicadinho, nós seus mííínimos detalhes, o povão não gosta, fica perdido. Veja as críticas a O Mundo Depois de Nós : quem era o vilão, por que, que aconteceu???? Em Os Pássaros, do nada as coisas acontecem e no nada acabam. Imagina o que essa gente não faria com a obra-prima de Hitchcock?