[Leia a terceira parte do ensaio]
Mundo sem sentido
“Quando eu estava pensando sobre como começar Monica, procurava por uma forma de pegar uma história que era sobre uma pessoa específica em um momento específico do tempo histórico e fazê-la parte da grande história, não apenas da raça humana, mas do universo. Queria saber se conseguiria atingir essa grandeza”
Daniel Clowes em entrevista para a revista The New Yorker
Vamos voltar para a capa de Monica.
É verdade, como vimos no capítulo anterior do ensaio, que ela nos mostra a figura de Monica, desenhada com volume, profundidade e em uma colorização que a destaca do fundo do desenho. Mas também é verdade que o fundo do desenho não é uma cor chapada, como muito bem poderia ser. É o universo, desenhada de forma caricata e hipercomplexa: na capa da hq, Monica olha… para alguma coisa.
Seria esse “alguma coisa” a história recente americana?
Existem alguns motivos para pensar que sim. Logo em suas primeiras páginas, Monica nos mostra um resumo da historia humana. É um resumo que conclui, ironicamente, com uma imagem d’A Família Buscapé. É como se Clowes estivesse dizendo que o processo evolutivo teve a sua culminação em um subproduto cultural derivativo sobre interioranos na cidade grande: o ápice da civilização é o brega sendo admirado pelo jeca.