#especialOscar: A Fúria Do Sol
O que J. Robert Oppenheimer nos revelou ao ver a bomba atômica?
Nos últimos meses, por causa da popularização da Inteligência Artificial (IA) baseada em modelos de linguagem (os LLM, Large Language Models, como ChatGPT, Midjourney e Bing), cientistas e intelectuais ficaram preocupados a respeito desse avanço na área da tecnologia.
A principal alegação é que a IA destruiria a humanidade, da mesma forma como poderia ter acontecido com a fissão nuclear descoberta em 1938. Assim, sugeriram a criação de uma “moratória” para que a sociedade civil refletisse sobre o que fazer com esse perigoso salto evolutivo. Esta pausa foi batizada de “o momento Oppenheimer”.
O nome é uma referência ao físico americano J. Robert Oppenheimer (1904-1967), que, entre outros feitos, ficou célebre por ter sido o diretor do Projeto Manhattan, localizado na região de Los Alamos, Novo México – um empreendimento financiado pelo governo dos EUA durante os anos cruciais da 2ª Guerra Mundial, a princípio feito para competir com os nazistas, e que produziu nada mais, nada menos que a bomba atômica.
O resultado direto desta empreitada foi outro alvo: o genocídio de Hiroshima e Nagazaki em 1945, cidades japonesas que foram vítimas da fúria dos americanos (amargurados pelo ataque do Japão contra Pearl Harbor, em 1941).
Segundo o relato popular, Oppenheimer, ao saber dos efeitos macabros da sua criação, arrependeu-se dela e dedicou o resto da vida a alertar seus contemporâneos sobre o risco de uma catástrofe armamentista. Por isso, foi perseguido por burocratas de Washington durante o macartismo, sofrendo acusações de ser um espião soviético, enquanto se opunha ao surgimento da bomba de hidrogênio, elaborada por Edward Teller.
Por uma dessas coincidências que nem a História explica, enquanto as melhores mentes da nossa época usam da figura do cientista para justificar o temor delas diante da evolução da IA, também estreou nos cinemas Oppenheimer, o primoroso longa de Christopher Nolan e vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2024, responsável por sucessos como Batman – O Cavaleiro das Trevas, Dunkirk e Tenet, cujo tema é a odisseia daquele que passou a ser conhecido como “o pai da bomba atômica”.
O filme mostra que Oppenheimer foi um simpatizante da esquerda, mas omite que ele também repassou informações de que os EUA estavam avançados na pesquisa para uma arma “feita de urânio” ao Setor do Projeto Atômico Soviético, em meados de 1942, alguns meses antes de assumir a chefia do Projeto Manhattan.
A razão desta lacuna é a fonte literária na qual Nolan se baseou: a biografia Oppenheimer – O triunfo e a tragédia do Prometeu Americano (2005), de Kai Bird e Martin Sherwin, publicada aqui pela Intrínseca na esteira do lançamento do filme numa edição vergonhosa, e que trata esse fato com desprezo.
Apesar da obra ter demorado mais de vinte e cinco anos para ser escrita, por causa do volume avassalador de pesquisa, ela não compreende de maneira adequada as implicações morais do que significava ser um simpatizante do comunismo. No fundo, isso faz parte da construção histórica, próxima do mito, que a posteridade fez em torno de Oppenheimer, retratando-o como um “penitente” erudito, amante da literatura clássica e modernista, e que teria visto com cautela a existência da bomba atômica – nomeando assim, por analogia, o instante histórico que os nossos cientistas e intelectuais pedem hoje à sociedade, para que os avanços na IA sejam temporariamente suspensos.
Porém, há um problema no uso da expressão “o momento Oppenheimer”: na vida real, o diretor do Projeto Manhattan nunca se arrependeu da sua obra-prima de destruição.
Neste aspecto, Nolan, Bird e Sherwin são fiéis aos fatos, assim como outras biografias posteriores sobre o cientista (entre elas, Inside the centre [2013], de Ray Monk, biógrafo de Wittgenstein e que fez um trabalho superior à dupla de escritores americanos).
Não à toa, a famosa citação atribuída a Oppenheimer, retirada fora do contexto de um verso do tradicional livro indiano Bhagavad-Gita (“Eu me tornei a Morte, destruidora dos mundos”, uma tradução levemente alterada do original – “Sou o Tempo, poderoso autor da destruição do mundo, dedicado a aniquilá-lo”) e provavelmente proferida no exato minuto em que aconteceu Trinity, o primeiro teste atômico ocorrido no dia 16 de julho de 1945 (uma referência aos poemas religiosos do inglês John Donne), foi a desculpa que o cientista criou para si mesmo ao aceitar que ele apenas cumpria o seu dever.
Mesmo vinte anos depois, quando visitou justamente o Japão em 1960 e foi questionado por um jornalista do New York Times sobre se ele tinha algum remorso a respeito da sua participação no apocalipse nuclear, Oppenheimer respondeu: “Não me arrependo de nada por ter sido bem sucedido no sucesso técnico da bomba atômica”. E mais: duas décadas após Trinity, já próximo da sua morte em 1967, ele afirmou que teria feito tudo de novo.
Neste sentido, John Donne e J. Robert Oppenheimer tinham muito em comum, pelo menos no aspecto do caráter de cada um. Eram oportunistas talentosos, que sabiam se reinventar profissionalmente conforme a exigência do momento, seja no campo da política, seja no campo da arte que praticavam (literatura e ciência, respectivamente).
Além disso, eram dois mulherengos consumados. Aliás, foi uma mulher – Jean Tatlock, militante aguerrida do Partido Comunista – que apresentou a obra de Donne a Oppenheimer. Este, por sua vez, não só sabia de tudo sobre a física quântica em que atuava, mas era um leitor voraz, consumindo toda a poesia modernista que lhe era ofertada (Eliot era um dos seus poetas favoritos).
Esta diferença o permitiu ver os acontecimentos dos quais fez parte de uma maneira completamente inusitada, pois deu a Oppenheimer a capacidade de articular em palavras o sentimento que permeava o próprio fato histórico que ele testemunhava, seja como espectador, seja como protagonista.
Foi o que ocorreu quando ele teve de batizar o lugar em Los Alamos, Novo México, onde aconteceria o primeiro teste atômico bem-sucedido.
E como foi bem-sucedido! Quem estava presente ali, no dia 16 de julho de 1945, às 5h30 da manhã, afirma que a luz provocada pela explosão foi igual a um sol que cegaria os nossos olhos para sempre.
Obviamente, depois disso, o mundo nunca mais seria o mesmo.
Quando Oppenheimer foi obrigado a consagrar o lugar deste acontecimento único na história da humanidade, ele escolheu um nome de aparente, mas enganosa, simplicidade: Trinity.
Sim, Trindade. A Trindade.
Na hora, ele não explicitou quais foram as razões para tal batismo. Anos depois, ao ser questionado, ele argumentou que sua principal inspiração foi a poesia de John Donne, especificamente o Soneto Sagrado XIV e o “Hino a Deus, meu Deus, em minha Enfermidade” - sendo que este talvez tenha sido o derradeiro escrito do poeta, antes de falecer.
Havia um outro motivo para a referência a Donne: Oppenheimer soube, naquela mesma época, que Jean Tatlock tinha cometido suicídio (há suposições de que ela teria sido assassinada pela CIA, mas isso é outra história).
As implicações entre amor e morte, criação e destruição, são mais do que evidentes, e chegam até ser – perdoem-me o pleonasmo – reveladoras.
A “trindade” do sítio vem da seguinte estrofe do Soneto Sagrado XIV: Batter my heart, three-person'd God, for you/ As yet but knock, breathe, shine, and seek to mend;/ That I may rise and stand, o'erthrow me, and bend/ Your force to break, blow, burn, and make me new.
(No longa de Christopher Nolan sobre o cientista, o momento em que Cillian Murphy, o ator que interpreta Oppenheimer, profere o primeiro verso, no meio do deserto, é deveras emocionante)
Na tradução nacional feita por Paulo Vizioli, ficaria assim: “Deus de trina pessoa, a esta alma sova/ brilhe e pause por ti meu coração;/ para me erguer, me abate; e sem perdão/ me corta, queima, quebra e me renova”.
A pergunta a se fazer cada vez que tento imaginar o que Oppenheimer viu ao escolher estes versos é a seguinte: será que ele anteviu o futuro – no caso, o nosso futuro?
Oppenheimer era um sujeito brilhante, assim como Donne, e ambos eram homens que tinham a capacidade de conciliar, de maneira agônica, as contradições e os paradoxos que a vida nos impõe.
Quando Donne escreveu o Soneto Sagrado XIV, já era um convertido à Igreja Anglicana, depois de ter sido batizado no catolicismo, indo depois ao protestantismo e só alcançando alguma paz ao ser o Deão da Igreja de São Paulo, um cargo eclesiástico-estatal criado pelo próprio Rei Jaime I para apaziguar o atormentado e polêmico poeta.
O resto do poema confirma tanto as intuições futuras de Oppenheimer como a memória amargurada de John Donne: I, like an usurp'd town to another due,/ Labor to admit you, but oh, to no end;/ Reason, your viceroy in me, me should defend,/ But is captiv'd, and proves weak or untrue.
(Na versão de Vizioli, fica assim: “Meu esforço o sucesso não comprova,/ E, praça de outrem, sofro usurpação;/ Teu fraco vice-rei, minha razão,/ caiu ou não me ampara nesta prova”)
Ou seja: para Donne, a razão foi uma vice-governante da sua alma que não lhe ajudou em nada na hora de maior provação; mas, para Oppenheimer, a mesma razão – seria a razão científica? – nunca mais o defenderia quando a sua maior criação finalmente foi manifestada no mundo.
Essa criação, claro, essa obra-prima suprema da destruição, era nada mais, nada menos que a maior arma de destruição em massa já criada.
Por outro lado, o que Oppenheimer também sugere, ao batizar o nome do lugar do primeiro teste atômico, é que, mais cedo ou mais tarde, nós teríamos de amar o que foi revelado ali.
Portanto, por que os nossos cientistas e intelectuais insistem em comparar a nossa situação atual, marcada pela ameaça da IA, com aquela época em que o mundo estava à beira do abismo se algum governante maluco apertasse o botão vermelho e disparasse uma ogiva nuclear (e a qual, na verdade, não mudou muito – é só lembrarmos de Vladimir Putin e a guerra da Ucrânia)?
A resposta é que o uso da expressão “o momento Oppenheimer” é uma falácia retórica. Ela serve para nos desviar do fato de que vivemos não só em uma plena “explosão do conhecimento” humano, mas sobretudo em uma permanente “reação em cadeia” que intensifica a rivalidade entre a excelência da verdadeira ciência e a tirania dos especialistas responsável por transformar o progresso tecnológico em uma pseudo-religião.
O pensador francês Jean-Pierre Dupuy, em seu livro Retorno de Chernobyl – Diário de um homem irado (É Realizações), argumenta que o conceito de “reação em cadeia” não é somente um espantoso isomorfismo entre os domínios da física e da sociologia. Trata-se, na verdade, de uma expressão que os cientistas atômicos, talvez sem perceber e sem querer, elaboraram para evocar o “medo ancestral do pânico”.
Não é um temor irracional. O que eles descobriram foi uma verdadeira revelação de como alterar a estrutura da realidade. Na explicação precisa de Dupuy, “um nêutron lento atinge o núcleo de um átomo de urânio-235, este se quebra em dois núcleos mais leves, libera-se uma forte energia, e em média 2,4 nêutrons são emitidos. Cada um desses nêutrons, caso não seja absorvido pelos núcleos de elementos não físseis, e se não escapar do material combustível, vai ele mesmo provocar a fissão de um núcleo de urânio-235, e isso é a reação em cadeia divergente: a explosão combinatória resultante, caso realizada num intervalo muito curto, produz uma explosão atômica”.
Se compararmos esse evento microscópico com o que acontece entre as máquinas que simulam nosso modo de pensar, fica claro que a evolução da IA jamais será equivalente à seriedade do que é a “reação em cadeia”. No caso da fissão, o que temos é o real sendo manipulado pela técnica humana e ativando uma complexidade de resultados imprevisíveis; já no dos LLM, há uma pálida imitação desta mesma “explosão” entre as redes neurais sintéticas, os quais sem dúvida copiam o mecanismo do nosso cérebro, mas que são incapazes de adquirir o nosso entendimento intuitivo.
O problema com a IA não é o uso da linguagem em si, e sim com o conhecimento que surge dela. E aí está a verdadeira rivalidade que ninguém quer anunciar: a tensão entre aqueles que desejam manter essa informação crucial em segredo absoluto e os que querem compartilhá-la com o resto da humanidade.
Se olharmos a discussão atual sobre a IA a partir dessa perspectiva, especialmente por causa da expressão “o momento Oppenheimer”, então as escamas caem dos nossos olhos e enfim temos algum vislumbre de luz sobre o que está realmente em jogo.
As pessoas que defendem a “moratória” na evolução da IA são as mesmas que apoiam o controle sobre o conhecimento surgido com as LLM porque elas desejam transformar o próprio homem em uma máquina sem alma, absolutamente desprovido de livre-arbítrio e, portanto, alguém que precisaria de uma orientação para viver. Temos aqui os “especialistas” que, sem assumirem responsabilidade sobre suas ideias, estimulam ainda mais a “reação em cadeia” com os verdadeiros cientistas que sabem, antes de tudo, que a “explosão do conhecimento” só pode ser contida se ela for disseminada na sociedade civil.
Neste sentido, J. Robert Oppenheimer foi o homem que simbolizou a passagem da “ciência pura” para a “ciência aplicada” – e a bomba atômica foi o nó górdio a amarrar para sempre o mergulho cada vez mais aprofundado sobre a natureza das coisas (objeto do primeiro tipo de pesquisa) com a técnica de como chegar a vantagens práticas por meio do uso de recursos materiais (meta do segundo).
A solução prática para este dilema que consumiu o século XX (e estende-se até o nosso) é a criação de uma “comunidade de estudiosos”, de acordo com Michael Polanyi. Ela fomentaria e separaria, dentro de uma sistematização coerente, os campos distintos entre a parte pura e a aplicada. Contudo, a “segregação acadêmica da ciência” pode levá-la à separação definitiva com os dilemas concretos da sociedade. Polanyi tinha plena noção desse problema – e não à toa alertou aos colegas a respeito de uma ideologia baseada no “poder absoluto” dos governos e que convenceria os incautos de que a única ciência importante é a aplicada.
É justamente este tipo de poder que fascina os defensores da IA – e também aqueles que pretendem controlá-la a qualquer custo. Porém, é algo que não se sustenta no longo prazo, como afirmou o Nobel em Física Roger Penrose em seus polêmicos tratados sobre o assunto, A mente nova do imperador (1989) e Sombras da mente (1994).
Penrose explica, indo do algoritmo de Alan Turing ao teorema da incompletude de Kurt Gödel, passando pelas diferenças entre a física clássica e a quântica, que a IA é até capaz de computar um pensamento. Porém, como a nossa inteligência vive nas brechas de um reino misterioso, seja o “inconsciente” ou a “incerteza”, uma máquina não conseguirá apreender, por um único instante, uma solução prática que sintetiza os três grandes princípios que ainda estruturam a nossa realidade: o Bom, o Belo e o Verdadeiro.
Por incrível que pareça, a bomba atômica, precisamente por causa da sua força destruidora, é a súmula destes paradigmas. Quem percebeu isso foi Niels Bohr, responsável por influenciar Oppenheimer na estratégia para amortecer a disputa militar entre os EUA e a URSS durante a Guerra Fria. O físico dinamarquês anteviu, ao apelar para a “ciência pura”, que a bomba seria simultaneamente uma maldição e uma benção. Uma maldição porque, se usada, aniquilaria a raça humana; e uma benção porque, justamente devido ao primeiro motivo, acabaria com todas as guerras.
Infelizmente, não foi o que se viu nos anos seguintes. Os conflitos permaneceram, talvez apenas de uma maneira mais contida. Enquanto isso, Oppenheimer, apesar de não ter demonstrado remorso, ainda assim assumiu a responsabilidade pelas consequências da sua magnum opus. Inspirado pela “comunidade de estudiosos” de Polanyi, defendeu a transparência ao compartilhar o conhecimento sobre a fissão nuclear, tendo como principal meta diminuir a “reação em cadeia” na política internacional.
Ora, isso é o exato oposto do que os nossos cientistas e intelectuais querem fazer com a IA – e eis aqui a mentira ao usarem “o momento Oppenheimer”. Segundo essa tirania dos especialistas, é melhor suspender com tudo, somente para manter o avanço tecnológico em segredo e deixar a sociedade civil no escuro. Contudo, assim como ocorreu com a bomba atômica na década de 1940, não há mais mistérios sobre a IA. Querer insistir nisso é apenas praticar uma outra consequência indesejada e letal – a de que, como nos lembra Chaucer, “o que nos for proibido é o que desejaremos”.
Um verdadeiro cientista como Oppenheimer sabia, apesar de todas as suas contradições, do perigo que era o controle do apocalipse pelo Estado, com as armas nucleares nas mãos dos políticos. Já os que desejam dominar a IA querem desviar este novo tipo de conhecimento apenas para si mesmos e abandonar o mundo ao deus-dará.
Deixem o gênio fora da lâmpada – e as pessoas ficarão saturadas dessas máquinas que não passam de “macacos de Deus”. Pouco a pouco, esse cansaço dará lugar ao retorno da excelência, a mesma que motivou Oppenheimer em Los Alamos a revelar a “reação em cadeia” que ainda nos domina e a qual, segundo escreveu John Donne no poema que consagrou o lugar onde tudo começou, “nos corta, queima, quebra e renova sem perdão”.
Pois, assim como a Trindade, que é um nó górdio difícil de ser compreendido por nós, meros mortais (afinal, como o Pai, o Filho e o Espírito Santo podem coexistir em uma única substância invisível que estrutura toda a nossa realidade?), a bomba nuclear foi a energia que movimentou a nossa modernidade – e que nos persegue até os nossos dias (o sucesso estrondoso do filme de Nolan é a maior prova disso).
Sem ela, tanto a nossa evolução como a nossa destruição se tornaram algo comum em nossas vidas. Não podemos mais viver sem o amor que criamos pela mesma bomba que pode nos aniquilar.
A menção a Donne feita por Oppenheimer se torna um axioma quando observamos o final do Soneto XIV: Yet dearly I love you, and would be lov'd fain,/ But am betroth'd unto your enemy;/ Divorce me, untie or break that knot again,/ Take me to you, imprison me, for I,/ Except you enthrall me, never shall be free,/ Nor ever chaste, except you ravish me.
(Vizioli: “Mas te amo, e teu amor desejo só;/ Porém, uni-me ao inimigo teu./ Divorcia-me, rompe aquele nó,/Toma-me agora, me aprisiona, que eu/ Sou livre só quando a teus pés me arrasto,/ Só quando me violas sou casto.”)
O objeto de amor – a bomba – é também o objeto de ódio e amargura. Estamos presos nele, até o fim dos tempos, seja por meio do disfarce da Inteligência Artificial, seja por meio da “tirania dos especialistas” que perverteram a verdadeira ciência.
O que J. Robert Oppenheimer viu em Los Alamos não foi apenas a fúria do sol. Mediado pelos versos de John Donne, ele também profetizou que seríamos violentados pela misteriosa (e implacável) força da Providência que até hoje ninguém conseguiu compreender.
Meu Deus....que texto! Estou imprimindo para relê-lo....
Perfeito, como sempre, Martim!
Texto maravilhoso, muito obrigada e parabéns!🙌
É frente/verso, é o bom e ruim, o doce/amargo.....enfim.... é a humanidade seguindo num rumo que nunca sabemos onde irá chegar!
E sobre o filme.....7 estatuetas! 👏👏👏👏👏👏👏👏