#especialOscar: O Universo Oculto de Christopher Nolan
Uma retrospectiva sobre a filmografia do grande vencedor do Oscar 2024
1.
Era Paulo Francis quem dizia: “O filme é uma merda, mas o diretor é genial”. Acho que ele afirmaria o seguinte daquela película que todo mundo dizia ser cult, excelente, maravilhoso, etc. e tal — Memento (2000): “O diretor é uma merda, mas o filme é genial”. Traduzido em um português impecavelmente idiota como Amnésia, a obra não me causou impacto nenhum quando a vi pela primeira vez. Achei bom, e nada demais: uma estrutura metida a sofisticada, uma trama noir, boas interpretações — enfim, uma Sessão da Tarde que qualquer esnobe adoraria.
Mas, anos depois, percebi que sou uma anta. Esta é, afinal de contas, a vantagem de ficar velho: você passa a ver um outro aspecto de uma obra de arte que ninguém percebeu e, o melhor, ter a chance de confirmar isso numa revisão. Foi o que aconteceu comigo e Memento. Relembrando o filme — que, curiosamente, ficou pregado na minha memória —, percebi que não era uma mera historinha de assassinato e vingança contada de trás para frente. Claro que o final, ao estilo Coração Satânico (do saudoso Alan Parker), ainda me irrita um pouco; no entanto, há um propósito para terminar daquela forma e só então vi a intenção do diretor Christopher Nolan (que, justiça seja feita, nunca foi aquilo que Francis teria dito, como os anos seguintes mostraram).