#Extremos
Há décadas, o único radicalismo que vemos é a degradação institucional protagonizada por praticamente todos aqueles que deveriam ter algum zelo pelas instituições
Quem tolerou dança da pizza em 2006.
Quem tolerou as marmiteiras na Mesa Diretora do Senado Federal em 2017.
Quem já tolerou as mais virulentas obstruções do PT e seus puxadinhos.
Quem já olhou para vandalismo e bandidagem e não chamou de “trama golpista”, mas de manifestação de sindicalistas e movimentos sociais.
Agora, finge indignação e defende a perda de mandato para baderneiros?
Quem já protagonizou cenas tão degradantes quanto as cenas mais recentes...
Deveria dar, então, o exemplo. Peçam todos para sair.
Todos que já se envolveram em baixarias de todos os níveis. Todos os larápios, todos os que desviam verbas para suas próprias contas, todos que xingam, empurram, batem, pedem intervenção divina ou estrangeira...
Peçam todos para sair. Saia o presidente da República que é o grande líder que coordena todo esse circo.
Saiam todos com sua indignação seletiva dizendo que a Câmara nunca presenciou tal cenário. Quando, na verdade, tal cenário só foi possível como decorrência de muitos outros eventos de igual proporção moral.
Na imprensa, que há décadas recorre a todo tipo de eufemismo para tratar o PT – contribuindo para a erosão do discernimento público e da própria capacidade de nomear as coisas como realmente são –, todos enchem suas imensas bocas para falar sobre “extremismo”. Já que gostam de falar em extremos, deveriam começar a observar autoridades de outros países que se comportam como gente. Deveriam, quem sabe, fazer perguntas que provoquem as excelências. Afinal, o único radicalismo que vemos é a degradação institucional protagonizada por praticamente todos aqueles que deveriam zelar pelas instituições.
No Japão, onde deputados e ministros ganham 3 ou 4 vezes mais do que a renda média dos demais cidadãos, um ministro da Justiça renunciou em 2010. O motivo: ele havia dito publicamente que ser ministro da Justiça era algo "fácil", pois bastava lembrar duas frases para responder ao Parlamento: "Não comento casos específicos" e "Agimos conforme a lei e as evidências". A declaração foi considerada desrespeitosa ao Legislativo.
Em 2019, outro caso de um ministro que se demitiu depois que reportagens mostraram que ele distribuiu melões caros, caranguejos e até dinheiro para funerais aos eleitores.
Na Suécia, onde deputados ganham 3 vezes a média dos demais cidadãos, um líder de partido foi acusado de receber subsídio moradia a mais. Ele devolveu o valor e renunciou.
Na Alemanha, onde ministros ganham 5 vezes a média salarial dos cidadãos, dois ministros renunciaram depois de terem flagrado plágio em suas teses de doutorado.
Na Coreia do Sul, o Primeiro-Ministro renunciou em 2014 após uma tragédia. Uma embarcação naufragou e causou centenas de mortos. Ele não tinha responsabilidade direta, mas, depois de conversar com familiares das vítimas e ver a revolta da população, assumiu a responsabilidade simbólica pela resposta pública ao desastre.
São só alguns exemplos, entre muitos outros no mundo, de autoridades que têm vergonha na cara e colocam seus umbigos abaixo das instituições. A renúncia e o pedido de desculpas não demandam grandes mobilizações, processos circenses de impeachment, são feitos voluntariamente, ou pelo reconhecimento de que, se erraram e foram pegos na mentira ou na ilegalidade, não devem contrariar a pressão social para que sumam.
No Brasil, onde deputados ganham 20 vezes mais do que o cidadão comum – isso contando só a remuneração –, desafio alguém a encontrar um caso remotamente semelhante em nossa grande res publica. Como diz o Lula: um político nunca deve submergir, deve se impor, mesmo quando rouba. Sendo desgovernados por esse tipo de moral há décadas e fingindo que está tudo bem, imaginamos que teríamos qual tipo de Congresso?
São tradições distintas, culturas mais voltadas para a responsabilidade pessoal, que ainda sabem o significado e valor da palavra dignidade. Mas se é para falar em extremos, não há contraste melhor a todas as autoridades que ocupam cargos em Brasília hoje..
Pela disparidade da comparação, talvez, seja mais fácil compreender algo muito evidente: chamar de política o que se faz em Brasília, de oposição o que chamamos de oposição e de governo o que chamamos de governo não tem o menor sentido.
Postagem espetacular, antológica! É uma daquelas que todo cidadão assinaria. Mas o Brasil é amaldiçoado demais para cair na real e se dar conta do que diz o texto.
Esse vai para coleção de artigos sensacionais já publicados por este nobre não órgão de imprensa.