“A calúnia! Senhor, mal sabe o que despreza. Já vi as pessoas mais honestas sucumbirem; creia-me, não há malícia nem horrores, nada de absurdo que não possa ser adotado pelos ociosos das cidades (...). Começa com um ligeiro ruído, num voo rasante semelhante ao da andorinha antes da tempestade. Vem pianíssimo, como um murmúrio que espalha o veneno. Então, uma boca o recolhe e, aos poucos vai levando aos ouvidos hábeis. O mal está feito. A calúnia brota, vai rastejando e o demônio a reforça pelo boca a boca. De repente, sem se saber como, vemos a sua ascensão. Ela vai se inflando, crescendo aos nossos olhos e decola, espalha-se em seu vôo, tornando-se um furacão que vai devastando tudo o que encontra pela frente, até se transformar num grito geral que vai crescendo até se tornar um coro universal de ódio e de desterro. Ora, quem diabos resistiria a isso?”
— Ode à calúnia de Basílio, no Ato II, cena 8, da peça O Barbeiro de Sevilha de Beaumarchais.