#FaltaUmBoboNaCorte
"O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta"
O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.
— Barão de Itararé (Apparício Torelly)
O Barão de Itararé, considerado o patrono do humor brasileiro, foi jornalista de carreira, tendo fundado o semanário A Manha, uma forma satírica de humor, imitando o jornal A Manhã de Roberto Marinho, onde trabalhava. Após ter sido sequestrado e espancado por oficiais da Marinha, por uma reportagem sobre a revolta da chibata, achou por bem afixar na porta de sua sala uma placa com os dizeres:
Entre sem bater!
Na esquina em que verdade e a mentira se cruzam, há um ponto cego à espera de clareza. Para os que observam a vida em boa-fé, é nesse momento que a ironia provoca nosso escasso bom senso, aguçando a preguiçosa autocrítica. Ela revela o oculto, separando falso e verdadeiro.
Em idos tempos de monarquia, a função do bobo da corte transcendia o entretenimento. Havia, por trás de suas coloridas vestimentas, um subversivo cujo papel estratégico concedia-lhe a oportunidade de trazer verdades incômodas ao rei sem sofrer reprimenda. Alertar o monarca para erros de julgamento e ilusões de grandeza, enquanto nenhum outro cortesão poderia fazer, dava-lhe poder e responsabilidade.
Manfred Keets de Vries em seu brilhante Reflexões Sobre Caráter e Liderança (Bookman), toca no frágil nervo da vaidade humana.
A arrogância desmedida é uma questão recorrente entre líderes, justamente porque o poder frequentemente vem acompanhado de um sentimento excessivo de orgulho e soberba. Muitos líderes acreditam que podem transgredir regras criadas para os mortais comuns.
O autor argumenta que, como guardião da realidade com suas artes e artimanhas, o bobo da corte paradoxalmente previne que o rei cometa estripulias, fazendo ele mesmo papel de tolo.
Com o vazio de vozes discordantes no círculo íntimo do poder, sem que haja um bobo da corte por perto, para com coragem dizer o que mais ninguém ousa dizer, a derrocada é certa. A bolha da ilusão em que tudo pode, debaixo de um pragmatismo insolente e irracional, mais dia, menos dia, estoura.
E, então, desprovidos de ironia vamos lembrar o provérbio:
O que o homem semeia, certamente ceifará.
"Após ter sido sequestrado e espancado por oficiais da Marinha, por uma reportagem sobre a revolta da chibata, achou por bem afixar na porta de sua sala uma placa com os dizeres:Entre sem bater!"- Isso é muito sofisticado pros paladares sensíveis dos nossos tempos(Piadas MATAM)
Aqui no Brasil não adiantaria, porque os líderes são cegos, surdos e burros.