Ontem, o articulista favorito do bolsonarismo, Rodrigo Constantino, disse o seguinte a respeito de um artigo escrito pelo jornalista Guilherme Macalossi. Ambos são colunistas do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba.
Prepare o estômago:
A direita brasileira funciona assim: diz que não persegue ninguém, mas pede a cabeça do colega de jornal no mesmo vídeo em que se outorga como “defensora da liberdade de expressão”.
Além do fato gravíssimo de que Constantino ataca Macalossi injustamente - algo que a Gazeta do Povo precisa resolver de imediato para provar que é um veículo sério -, há o detalhe irônico que mostra que o autor de Esquerda Caviar não entendeu uma linha do texto citado.
Eis o que Macalossi escreve, a respeito da renúncia de Biden da corrida presidencial americana e da sua substituição por Kamala Harris:
Ao contrário de Trump, que surge como líder inconteste não apenas de um partido, mas também de um movimento político, Kamala, por outro lado, é a escolha de uma elite dirigente. Ela não participou das prévias e não foi votada pelos eleitores registrados do partido Democrata. A razão para ser ela a substituta de Biden diz mais respeito aos benefícios de uma escolha pragmática de quem pode usufruir dos recursos já amalgamados na campanha do que pelos seus próprios predicados.
Em parte da imprensa, que não disfarça sua simpatia pela nova candidata, se passa a falsa percepção de que a rapidez dos delegados democratas e das principais lideranças do partido em lhe apoiar é resultante de um carisma e de uma liderança irresistível. Mas está longe disso. Ou alguém acha sinceramente que o partido Democrata iria para sua convenção em processo aberto sem ter um nome previamente definido? No limite do tempo para definir quem concorreria com Trump, os caciques optaram por uma decisão pragmática, e, ironicamente, politicamente conservadora.
Constantino acusa Macalossi de ser um “falso conservador”, mas foi Macalossi quem fez uma autêntica crítica conservadora do Partido Democrata.
É algo que o bolsonarista adoraria ter dito, mas jamais seria capaz de conseguir, e por dois motivos:
(1) ausência de talento;
(2) falta de letramento básico.
Porque, afinal, na “imprensa” que defende o Capitão, imperam a hipocrisia, a estupidez e o ressentimento, para justificar a perseguição contra os jornalistas que sabem reconhecer a verdade da mentira, o certo do errado - e que honram a profissão.
Eu só assino a Gazeta se demitirem o Constantino
Constantino se definia no passado como liberal, mas ocorre que, se é bolsonarista, não é, nem de longe, liberal. Pedir a cabeça de um colega desvela o espírito persecutorio que vive no liberal de araque.