#FilosofiaDaMorte
As drogas mudam a conformação cerebral do viciado, deformam permanentemente a sua personalidade. Acabam por matá-lo tantas vezes quantas sejam suas recaídas.
Há dois anos mais ou menos, o filho de um meu companheiro de século matou-se. Era um moço de 41 anos; dentista por profissão e solteiro por convicção. A última vez que o vi foi no velório de seu pai, que morrera um lustro antes em decorrência de uma apoplexia pulmonar.
O moço não usava drogas nem bebia imoderadamente; deixou a seu irmão, único parente que lhe restara, um imóvel e uma missiva na qual fundamentava o ato extremo na falta de sentido da vida.
Tenho pelos suicidas sincera compaixão; reconheço que agem movidos por esperança, uma esperança pervertida, deturpada, falsificada, enfim, mas esperança.
Talvez por apreciar desmedidamente a literatura e certamente por ser velho, refletir sobre a morte toma-me tempo superior àquele que um psicanalista estaria disposto a ignorar. Não temo a morte do corpo, tampouco a desejo. Não sou hipócrita porém; com o senhor Joaquim Maria Machado de Assis, sei que filosofia é uma coisa, e morrer de verdade outra.