“O irmão de Lula é diretor vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), entidade envolvida no escândalo do INSS, investigada pela PF (Polícia Federal).”
Foi a CNN que disse isso. Não fui eu.
Aqui neste site, jamais diríamos coisa semelhante. Diríamos: “entidade envolvida no roubo dos aposentados”. É necessário sermos mais corretos no uso das palavras, não é? Para não correr o risco de disseminar fake news.
Mas o fato é que é difícil saber ao certo o que a justiça brasileira batiza, canoniza, excomunga ou juriprudencia como fake news. É um mercado muito volátil. E não dá para confiar nos manuais. Aqueles velhos livros com títulos engraçados: Constituição, Código Penal, Lei disso e daquilo… Todos defasados.
Vivemos uma nova era: a da hermenêutica em tempo real. Para saber o que vale ou não vale, é preciso ouvir longos e intermináveis votos no STF. Ler e interpretar decisões de juízes. Decifrar recados que assessores de imprensa dos juízes transmitem nos jornais.
Então, para evitar problemas, o melhor é ignorar fatos que, até outro dia, eram públicos e notórios.
Por exemplo, não vamos mencionar que Frei Chico, irmão de Lula, é vice-presidente do Sindnapi, o Sindicato Nacional dos Aposentados, que por acaso aparece nas manchetes por conta da Operação Sem Desconto da Polícia Federal.
Também não vamos mencionar nunca que Frei Chico não poderia ser vice-presidente da entidade, sendo irmão do presidente da república.
Vamos evitar tanto quanto possível tentar compreender porque ele não pode comparecer na CPMI, depois dos onze pedidos feitos por parlamentares.
Só trataremos desses assuntos quando houver a devida autorização judicial. Protocolada, carimbada e transitada em julgado. Enquanto isso, seguimos em prudente silêncio, aguardando que o Estado, em sua infinita sabedoria, nos diga quando será seguro ter uma opinião.
Agora, vamos todos fazer 2 minutos de silêncio. Um pela justiça. Outro pela liberdade de expressão.
O que me presta é que por mais avançada que seja a medicina e que as salas mega equipadas do Sírio Libanês estejam sempre disponíveis, o último suspiro desses ratos é certo e, nesse lindo dia, tomarei um belíssimo negroni. Ratos novos virão, mas aquele negroni ja terá sido deliciado.
Hans Christian Andersen, famoso autor de fábulas escreveu “As novas roupas do Imperador”, publicada em 1837. Fazia parte de um volume denominado “Contos de fada para crianças”. A fábula foi traduzida em 100 línguas (será que não foi ao português de cá?), e foi adaptado a várias mídias. Diz respeito a um Imperador obcecado por roupas novas, e gastava rios de dinheiro, às custas do erário público. Um belo dia, dois vigaristas visitam a capital do reino. Fingindo serem tecelões, oferecem ao monarca um suprimento de roupas magníficas, que seriam invisíveis aos olhos de pessoas incompetentes ou estúpidas. Quando ficam prontas, funcionários e ministros do reino veem que não existem roupas nos armários mas fingem tê-las visto para não serem ridicularizados. O Monarca então sai em desfile, nú, e o populacho fica em silêncio, para não parecerem ineptos ou estúpidos, até que uma inocente criança grita em alto brado que o rei está nú.
A história tem origem ainda mais remota, baseada num conto de 1335 de um livro dos exemplos, uma coletânea espanhola medieval. Continuamos a ter que fingir que o rei está vestido. A fábula não teve efeito educativo.