#GolpeEternoGolpe
“Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação”... O Brasil é um golpe permanente
Leio que haverá manifestação contra um e a favor de outro no dia 3 de agosto.
Não se organizam protestos para exigir que Lula desça do palanque e tome providências diante do colapso econômico?
Não se vai às ruas para cobrar responsabilidade fiscal? Nenhum suspiro para denunciar o desmonte das instituições?
O que se vê são manifestações para salvar Bolsonaro e atacar Alexandre de Moraes – ambos, aliás, merecedores de ataques por desviarem a atenção dos problemas que realmente importam.
Por essas e por outras, sempre tive a impressão de que o impeachment da Dilma realmente foi golpe. Não, não comprei a narrativa do górpi. Eu tenho a minha própria historinha...
Por mais que tenha ficado feliz com a saída da dilmenta, tinha aquela impressão – que evitava revelar para não ferir suscetibilidades – de que ela deveria ter terminado o mandato e o PT ser chutado do governo para sempre por “mérito” do eleitor e não daqueles deputados xexelentos.
Mas depois percebi que era ainda mais estranho do que me parecia.
“Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada... Porque a partir de um juiz de 1ª Instância, tudo pode acontecer nesse país...”, era uma senha de Lula. Depois do remendo de Romero Jucá “tem que estancar a sangria” e de Temer “tem que manter isso aí”, ficou mais fácil de montar a minha historinha...
Dilma Rousseff foi afastada por pedalada fiscal? É o mesmo que acreditar que Collor foi afastado pelo Fiat Elba.
Michel Temer, que assumiu com promessas num português mesoclítico, fez o necessário para acalmar os ânimos e, discretamente, iniciar o verdadeiro e único projeto de país que temos... eu diria que é o maior projeto de país desde o Plano Real.
Salvar os amigos dos amigos dos empreiteiros virou o motor das nossas vidas. O Brasil todo trabalha para isso. Nenhum projeto para o país teve tanto engajamento. Na minha historinha, Dilma caiu por esse nobre objetivo, por isso não perdeu seus direitos políticos, por isso hoje é presidanta de banco.
À época do impeachment da mulher honesta, tínhamos uma recessão profunda, inflação em alta, desemprego crescente e um rombo fiscal que ultrapassava R$ 170 bilhões. O governo enfrentava isso como? Maquiando e pedalando e seguindo a canção... Qualquer semelhança com Lula3, não deve ser coincidência. Desde quando isso faz presidente cair?
Hoje, Lula conduz o país a uma situação ainda mais grave. Mas não há protestos exigindo seu impeachment. Não há panelaços. Cadê o Vem Pra Rua? Cadê o MBL?
Só tem gente indo para a rua defender bolsonarento e para pedir para levar IOF na cara...
Não há indignação. Por quê? Na minha opinião, é porque o golpe foi real. Atordoante como se fosse uma marretada na cabeça de cada um de nós. Por isso, ninguém mais parece capaz de reunir pessoas e explicar que o país precisa reagir aos novos desastres que já nos assolam.
Qual desastre? O preço do café? O Trump? O Supremes? A Daniela Lima? Sim. Tudo isso e mais um pouco:
Agências reguladoras estão à beira do colapso. A Anac alerta para risco de acidentes aeronáuticos por falta de fiscalização. A Aneel demitiu 140 funcionários terceirizados. A Anatel suspendeu ações contra pirataria e desinformação.
A ANP, responsável por fiscalizar combustíveis, fechou banheiros de funcionários por falta de verba. Reduziu horário de atendimento e suspendeu o monitoramento da qualidade dos combustíveis.
A FAB só tem combustível para os jatinhos até 3 de agosto. Sete das dez aeronaves estão fora de operação. O ministro da Defesa tenta recompor o orçamento desde novembro.
Nas Forças Armadas, há escassez de verba para radares, caças e navios. A entrega de aeronaves da Embraer e da Saab será adiada.
Na educação, o MEC só vai comprar livros de português e matemática para crianças do fundamental. Editoras alertam que disciplinas como ciências, história e geografia ficarão sem material.
Na infraestrutura, a rede de dados essenciais para projetos corre risco por falta de verba, segundo a ANA. Sem esses dados, obras públicas ficam sem base técnica.
Nas rodovias, o dinheiro para radares acabou. O sistema de fiscalização pode parar, comprometendo a já comprometida segurança viária.
Imagine cortar mais verba da Anac, que fiscaliza a aviação civil. E da Anvisa, que aprova medicamentos. Os livros didáticos não são bons. Mas são o único eixo em torno do qual se organiza uma educação já precária. Sem eles, nem o mínimo se sustenta.
Imagine um país onde radares não funcionam, aviões não voam, agências não fiscalizam, universidades apagam as luzes e banheiros são fechados por falta de verba. Difícil não lembrar da Revolta de Atlas de Ayn Rand, mas sem John Galt.
O golpe é nossa realidade permanente. Ele não é contra a Dilma, ou contra a deusamocracia inventada pelos The Supremes. Sempre foi contra a ideia de que o Brasil poderia ser um país sério, verdadeiramente soberano. Acovardados somos todos. Com Lula no comando. Instituições em ruínas. Algum ruído para defender bolsonarento. Um ensurdecedor silêncio para defender o Brasil. Provas de que o projeto lulento de país funcionou.
Sempre genial
Por textos como este que me tornei Falstaffiano de coração!