Por André De Leones
(“Na companhia de estranhos” - Cynthia Scott, 1990.)
Vendo filme policial com Juliano
(…) Quem toma seriamente o caminho de Heidegger diz não ao belo e ao mundo estético, ao mundo eterno e também ao mundo interno. Diz não também à investigação científica e às suas construções, só restando como maneira de viver uma vagabundagem poético-ontológica fiel à palavra dizente. Aliás, a primeira vez que compreendi Heidegger, eu assistia a um filme na televisão sobre um policial que sofria de amnésia e queria descobrir qual era sua identidade. Se ele era do grupo do bem ou do mal. A certa altura, cai um pé-d’água e passa uma mulher com um guarda-chuva. Nessa hora eu me levantei da poltrona e gritei: Diz a chuva, diz a mulher! Esquece de vez este assunto de querer saber quem você é! Você é feito para dizer, ressoar e desaparecer! Aproveite que se esqueceu do detrito biográfico, agarre esta oportunidade nadificante e faça algo diferente! Tome o oco, o vazio e a facilidade para morrer. É óbvio que o filme não foi nessa direção (…).
— Juliano Garcia Pessanha, em “Recusa do não-lugar” (Ubu, 2018).
Mundo adulto
De uns dias para cá, por motivos que não vem ao caso mencionar aqui, reli e pensei bastante nos contos “Adult World (I)” e “Adult World (II)”, de David Foster Wallace. Eles integram o volume “Breves entrevistas com homens hediondos” (trad.: José Rubens Siqueira, Cia. das Letras), livro que se esbalda e esbalda o leitor com narrativas e metanarrativas — como é o caso de “Adult World (II)” — repletas (claro!) de homens hediondos e “assimetrias emocionais”.