Por João Falstaff
“Meu pobre reino, que tragédia cívica! Se o meu cuidado não sustou badernas, o que farás quando a baderna reina? Será de novo uma terra selvagem, habitada com os lobos das origens!”
Shakespeare, Henrique IV
Nos corredores de Brasília, quando alguém pensa no povo, é para tentar definir o caráter do brasileiro. Só coisa boa... O brasileiro é ignorante. O brasileiro adora picaretas. O brasileiro gosta de ser feito de otário. O brasileiro tem síndrome de Estocolmo. O brasileiro é malandro. O brasileiro é arrivista. O brasileiro só quer tirar vantagem. Brasileiro é assim mesmo...
O brasileiro! Ah, esse hominídeo do gênero homo e espécie bananiensis...
Se os bananiensis que ocupam os três poderes, pagos com o suor do meu trabalho, podem roubar e ridicularizar a todos diariamente, então, eu também posso. Eu sou bananiensis, com muito orgulho e muito amor. Como mamãe me ensinou direitinho a não roubar, resta-me debochar...
A interminável ironia do sistema político é espelhada pela infinita paciência dos bananiensis, que expressam sua insatisfação com um amálgama de deboche, cinismo e um voto deplorável – um protesto impecável do bananiensis contra ele mesmo. Somos pacifistas. Entre a cruz e a caldeirinha, como se a farsa do "menos pior" fosse sempre a única alternativa.
O bananiensis é, antes de tudo, melodramático. Rir ou chorar, só não podemos perder de vez a capacidade de nos espantar. Alguém ainda se espanta?
Eu confesso que minha capacidade de estarrecimento teve um ápice e depois entrou em declínio vertiginoso quando vi a deputada petista Ângela Guadagnin encenando a dança da pizza na Câmara dos Deputados em 2006. Alguém se lembra?