#ImaginaçãoTemor&Terrores (1)
O papel do escritor de ficção é expandir a realidade da experiência imaginativa
Por Rodrigo Duarte Garcia
“Tu me aterrarás com sonhos, e me horrorizarás com visões.”
Jó, 7:14
Uma das polêmicas mais antigas da crítica literária talvez seja aquela discussão toda sobre arte e natureza, natureza e arte, vocês conhecem a história: do questionamento platônico à criação artística como “imitação da imitação”, passando pela defesa de Aristóteles da mesma imitação (mimesis) como conceito essencial das tragédias, até as ironias deliciosas de Oscar Wilde, que descreveria paisagens deslumbrantes como “Turners de segunda-linha”, assim sugerindo a prevalência da arte sobre a própria vida. Brincadeiras à parte, a discussão tem consequências práticas importantes, bastando lembrar que foi justamente o abandono consciente da representação da natureza, pelo trio Kandinsky, Malevitch e Mondrian – influenciadíssimo por teorias ocultistas esotéricas[1] –, que embarcou as artes plásticas no trem desgovernado do abstracionismo.
Tudo muito bem, tudo muito bom. Mas, na literatura, as coisas podem ser também encaradas por um ângulo diferente. Não oposto, apenas complementar e bastante interessante: o da imaginação.