“Viemos de Deus e, inevitavelmente, os mitos tecidos por nós, embora contenham erros, também refletirão um fragmento estilhaçado da verdadeira luz, a verdade eterna que está com Deus. De fato, apenas criando mitos, tornando-se “subcriador” e inventando histórias, o Homem pode aspirar ao estado de perfeição que conhecia antes da Queda. Nossos mitos podem estar equivocados, mas eles se dirigem, ainda que trêmulos, para o verdadeiro porto,…”
JRR Tolkien
Em Reel Spirituality, Robert K. Johnston identifica cinco abordagens teológicas primárias para a crítica cinematográfica: evasiva, cautelosa, dialógica, apropriação e encontro divino. Mas há uma outra, a negação ou evasiva, que termina por ser a abordagem predominante por muitos que se negam a enxergar a cultura como um campo a ser cultivado, e transformando o espaço da cultura em um campo de batalha.
Johnston elabora ideias interessantes e pertinentes, uma delas, a de que “os espectadores cristãos devem primeiro ver um filme em seus próprios termos antes de entrar em um diálogo teológico com ele”.
Ao dizer isso, Johnston simplesmente quer dizer que, ao entrar no cinema, é vital deixar as questões do mundo exterior na porta para mergulhar completamente na experiência do filme e em um potencial diálogo teológico. Para ser claro, Johnston não está afirmando que a teologia é secundária para assistir a filmes, mas está sugerindo que uma análise teológica deve sempre vir após a experiência estética do filme.
As duas últimas abordagens teológicas, apropriação e encontro divino, baseiam-se no diálogo, mas expõem seu conceito. Em uma bela imagem eucarística, Johnston propõe que devesse ‘partilhar o pão da cultura’.
Aqueles que aderem à apropriação, a esta partilhar, acreditam que o filme é capaz de moldar a vida de seus espectadores e, novamente, um crítico deve primeiro se voltar para o próprio filme, não para a teologia, ao entrar em diálogo com ele.
A Igreja Católica defende a sacramentalidade da criação, o que significa que acredita-se que Deus pode ser encontrado através das pessoas, objetos e experiências com as quais interagimos diariamente, incluindo filmes- e é de alguns filmes que falaremos aqui hoje, filmes onde podemos encontrar viva, pulsante, por vezes discreta, trêmula, mas presente, a palavra de Deus…