#interludio: A Direita é o Novo Punk
O que realmente está acontecendo com a política em Portugal? - Parte Final
[Leia a segunda parte do ensaio]
*Por Ricardo Figura Lima
I go to work for Gregory Illinivich, and all day long I work. Honestly doc, I don’t even know what I’m doing anymore. I don’t even know if Gregory Illinivich knows. He only knows that he has power over me, and that seems to bring him happiness. But I don’t know, I wake up in a malaise, and I walk here and there… at night I…I sometimes wake up and I turn to some old lady in my bed that’s on my arm. A lady that I once loved, doc. I don’t know where to turn to. My youngest, Alexendria, she fell in the…in the cold of last year. The cold took her down, as it did many of us. And my other boy, and this is the hardest pill to swallow, doc. My other boy, Gregarro Ivinalititavitch… I no longer love him. As much as it pains me to say, when I look in his eyes, all I see is the same cowardice that I… that I catch when I take a glimpse of my own face in the mirror.
[Vou trabalhar para Gregory Illinivich, e trabalho o dia todo. Honestamente doutor, eu nem sei mais o que eu estou fazendo. Eu nem sei se Gregory Illinivich sabe. Ele só sabe que tem poder sobre mim, e isso parece trazer-lhe felicidade. Mas não sei, acordo indisposto, e caminho para lá e para cá... À noite eu...Por vezes acordo e me volto para uma velha senhora na minha cama que está nos meus braços. Uma senhora que já amei, doutor. Eu não sei para onde me virar. A minha mais nova, Alexendria, sucumbiu no... no frio do ano passado. O frio levou-a para baixo, como a muitos de nós. E o meu outro rapaz, e este é a pílula mais difícil de engolir, doutor. O meu outro filho, Gregarro Ivinalititavitch... Eu não o amo mais. Por mais que me doa dizer, quando olho nos olhos dele, tudo o que vejo é a mesma covardia que eu... que eu pego quando eu encaro o meu próprio rosto no espelho.]
Norm Macdonald, The Moth (A Mariposa)
O princípio do fim do consenso de Washington é uma thread no 4chan. Aquilo que pode assemelhar-se a um exagero ilustra bem como a meta-modernidade capturou os jovens para o fenómeno político. O meu amigo João Silva, que vem estudando o pós-liberalismo estadunidense, costuma escrever que o jovem sobre quem nos debruçamos aqui encara a ordem liberal pós-Fukuyama como um corpo a boiar num rio. Para Silva, o “ok boomer” é o símbolo máximo da rejeição desta ordem – incluindo nela as convenções políticas e sociais que esse mundo lhes legou, numa reedição do “é proibido proibir”. Um Ok, Boomer ou um Pepe são a versão contemporânea dessa frase que inundou as ruas em 68.
E como numa crónica de Nélson Rodrigues, o Freud do Rio, é o sexo a fazer a ligação. Como? Passo a explicar. A Manosphere, representada por figuras como Andrew Tate ou Rollo Tomassi, é a sucessora natural do mundo dos Pick Up Artists que inundava fóruns digitais da década de 00. Mas o meu amigo, no seu orgulho de macho, não iria pisar na bola de revelar na mesa do bar que havia terminado de ler um tombo de 500 páginas sobre como pegar mulher, correto? É essa a genialidade da Manosphere. Ela apodera-se do niilismo crescente dos zoomers, ressentidos com o mundo no qual não se reconhecem e reveste a “pegação” de filosofia. E o que se inicia como desejo adolescente de pegar a garota ao som de Gusttavo Lima passa a revestir-se de toda a uma filosofia sobre as relações entre homem e mulher desde a pré-história até Michel Temer, ascende a lições de desenvolvimento pessoal, casa facilmente com a grind e hustle culture do nosso late capitalismo e termina, como tudo nesta vida madrasta, em política.