#interludio: A filosofia da inimizade
Diante da tragédia, precisamos encontrar um bom motivo para manter a humanidade de pé e fazê-la desistir da incansável tentativa de se auto-destruir.
Embora tenham diferenças inconciliáveis, as ideologias partem sempre de uma visão negativa do ser humano, por isso seus gurus dizem ser necessário esclarecer o povo, alienado da sua condição política e vítima de uma conspiração das elites. Todos os ideólogos se apresentam como “antissistema”, denunciando um complô mundial dos “donos do mundo”. A desconfiança é o motor da política moderna, afinal, como dizia Carl Schmitt, num texto de 1932, entre notas de rodapé de páginas inteiras: “a oposição política é a mais intensa e extrema de todas. E qualquer outra oposição concreta será tanto mais política quanto mais se aproximar do ponto extremo, o do agrupamento baseado nos conceitos amigo-inimigo”.1