Não É Imprensa

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#interludio: A Maior História de Todos os Tempos

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Um conto de Natal para os leitores do Não É Imprensa

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Martim Vasques da Cunha
dez 23, 2023
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#interludio: A Maior História de Todos os Tempos
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No dia 9 de março de 1762, o negociante Jean Calas, de 68 anos, oriundo da pequena cidade francesa de Toulouse — segundo seus vizinhos “um bom homem praticante da religião protestante” –, foi condenado à morte pelo assassinato do seu filho Marc-Antoine, convertido ao catolicismo. O garoto se enforcou em uma porta, e aparentemente tirou a vida porque não conseguiu cumprir suas dívidas de jogo.

Mas não foi assim que o tribunal de Toulouse viu a situação. Para ele, Calas era um “fanático anticatólico” — uma acusação grave em um país que ainda se recuperava do massacre da Noite de São Bartolomeu, ocorrida em 1562, no qual quatro mil protestantes (huguenotes) foram trucidados a mando da família do rei Carlos IX. O negociante foi executado no “suplício da roda”, em que o indivíduo ficava esticado numa roda de madeira, quebravam-se seus ossos e membros, e, completamente estraçalhado e já morto, era exposto ao público como exemplo. Dias depois, o corpo de Calas foi jogado em uma fogueira. Até o fim, alegou sua inocência que, enfim, seria provada e sentenciada postumamente pelo tribunal de Paris, em 1765, por coincidência no mesmo 9 de março.

É a mesma história há mais de dois mil anos.

Em 3 de maio de 2014, um domingo, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, do Guarujá, segundo seus familiares uma excelente mãe de dois filhos, “conversadeira e alto astral, vulnerável e inofensiva” - pois tomava medicamentos para controlar o transtorno bipolar diagnosticado após sofrer um aborto espontâneo -, fazia compras num minimercado quando passou a mão na cabeça de uma criança que estava na rua e lhe ofereceu uma fruta. Segundo os juristas Letícia de Souza Furtado e Wilson Franck Júnior, em artigo acadêmico publicado na revista Iurisprudentia, “nesse instante, alguém teria apontado a mulher como sendo a ‘bruxa da internet’, porque ela era supostamente semelhante a uma figura representada em difundido retrato falado”, uma “feiticeira” que sequestrava crianças da região para rituais satânicos, arrancando-lhes os olhos e o coração.

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