#interludio: A Sedução Do Mal
"Ripley", minissérie da Netflix, é um exercício notável de narrativa cerebral, repleta de camadas simbólicas e estética refinada
Por Jacques Meir
Tom Ripley é um golpista de baixo calibre, vagando por uma Nova York atrás de vítimas fáceis de ludibriar. Vive em um quarto alquebrado onde se dedica a criar pequenos golpes se aproveitando dos controles frouxos daqueles anos da década de 50 do século passado.
Repentinamente, o acaso interfere e Ripley recebe a oportunidade da sua vida. Um novo rico chamado Herbert Greenleaf precisa da ajuda de Tom para convencer seu filho, “Dickie” Greenleaf, que se mudou para a Costa Amalfitana na Itália, para viver de forma frugal, desenvolvendo seu talento artístico para a pintura. Dickie é um bon vivant, um personagem completamente estranho àquela estrutura produtiva da época, renunciando ao trabalho “9 to 5” característico da sociedade americana.
Como Herbert chegou a Tom Ripley é um tanto obscuro. Em tese, soube que ele e Dickie chegaram a frequentar alguns locais e se tornaram colegas. Logo, como única pessoa próxima a quem recorrer, Herbert propõe que Ripley vá à Itália para convencer Dickie a abandonar suas férias eternas e retorne para a família.
Esse é o ponto de partida do espetacular romance “O Talentoso Ripley”, de Patrícia Highsmith, lançado em 1955 e que havia recebido duas versões no cinema, “O Sol por Testemunha”, com Alain Delon, direção de René Clément e “O Talentoso Ripley”, de Anthony Minghella, com Matt Damon interpretando o protagonista, Jude Law, como um exuberante e exagerado Dickie Greenleaf e Gwyneth Paltrow, como a namorada do bon vivant, Marge Sherwood.