#interludio: A Vertigem De Todos Os Lugares
O que Jorge Luis Borges e Stanley Kubrick têm em comum?
*Por Adaubam Pires
Uma nova Liga Extraordinária, mas só com personagens de Jorge Luis Borges. Para salvar o mundo de apocalípticas ameaças, o diretor de uma agência secreta governamental decide reunir uma equipe de indivíduos com habilidades extraordinárias, todos eles oriundos dos contos de Jorge Luis Borges. São eles:
Pierre Menard, o mestre dos disfarces, capaz de assimilar e reproduzir a fala, língua e trejeitos do inimigo tão maravilhosamente bem que até os familiares deste teriam dificuldade de saber qual é o original.
Ireneo Funes, o memorioso, com sua prodigiosa capacidade de memorizar qualquer mapa que lhe fosse apresentado, assim como códigos, senhas e combinações. Nunca esquecia um rosto. Nunca dormia.
Emma Zunz, assassina profissional, exímia estrategista. Desde quando vingou o suicídio de seu pai, Emma aprendeu a usar sua beleza como arma e se tornou uma especialista em artes marciais, tática e manejo das mais diferentes armas.
O romano Marco Flamínio Rufo, o Imortal, que bebeu a água do riacho da cidade dos imortais. Indestrutível, é o desespero dos serviços secretos inimigos: todos os esforços em tentar eliminá-lo até agora fracassaram.
A índia loira de Junín, nascida em Yorkshire, Inglaterra, e que perdeu os pais nova num ataque indígena quando a familía tinha acabado de se instalar às margens do Rio Salado, na Argentina. Levada pelos índios guerreiros dos Pampas, aprendeu com eles a arte da guerra. Especialista em sobrevivência na selva, maneja como ninguém o arco-e-flecha.
O minotauro Astérion, de força descomunal mas com idade mental de uma criança. Arredio, perturbavam-lhe as constantes viagens da Liga. A trabalho, em meio a pancadarias, no ápice do combate, mais de uma vez parou para admirar uma flor.
E, por fim, o líder da Liga Extraordinária: o Homem do Livro, habitante do venerado hexágono secreto da Biblioteca de Babel, o bibliotecário que teve acesso e memorizou o livro que é a cifra e o compêndio perfeito de todos os demais. Ao absorver o conteúdo desse livro total, tornou-se uma espécie de entidade suprema, análogo a um deus.
Reunidos na Biblioteca de Babel, seu inexpugnável quartel general, esses heróis locomovem-se com facilidade pela sua infinitude de bibliotecas hexagonais. Numa delas, cuja localização só lhes era conhecida, jaz a poderosa aliada da Liga nas suas missões: uma pequena esfera de fulgor impressionante — o Aleph, que lhes possibilita visualizar todos os lugares e coisas do mundo em tempo real, de todos os ângulos possíveis…
“O Aleph” ou, como diria Jorge Luis Borges numa carta a Estela Canto, o conto do lugar que é todos os outros. Nenhum conto de Borges me assombrou mais do que este.