#interludio: Brilho Fosco De Uma Cidade Sem Lembranças
Sobre o cancelamento da memória e o patrimônio histórico perdido
Por Fabio San Juan
Antiga rodoviária “John F. Kennedy” de Piracicaba. Mal projetada, inundava quando chovia forte, as águas do ribeirão Itapeva enchiam a av. Armando de Salles de Oliveira. Imagem do acervo do blog “A Foto e a História”, do jornalista Edson Rontani Jr, disponível aqui.
Um amigo, já falecido, quando fazia o curso de Geografia, na graduação da Unesp, estudava certa vez o conceito de brown fields. Na mesa do happy hour, colocou para nós sua novidade. Sabe aqueles lugares na cidade que ninguém nota, porque são tão feios que as pessoas não querem se lembrar deles? Como as rodoviárias, e seus entornos.
Como uma partida de truco, cada um ali na mesa foi descartando o que dispunha, conceitos curiosos das ciências humanas, que pudessem ser relacionados. O primeiro, então, tinha sido o brown field.
Outro apresentado foi o de memória-prótese, que o terceiro amigo da mesa, cursando História, descreveu como a memória de eventos reais, mas tão idealizados, que se aproximavam de serem totalmente imaginários. Muitas vezes, os eventos seriam, de fato, inventados. Num e noutro caso, o objetivo é o mesmo: fornecer à comunidade memórias que se colocassem no lugar das reais, que são em sua maioria, banais, sem graça, nada diferentes de outras cidades ou países. Memórias que que lhe trouxessem razões para se orgulhar, para formar uma identidade coletiva a partir de eventos grandiosos ou dignos de serem lembrados.